Educação por um mundo com Amazônias

OPINIÃO - Eduardo Fischer

Data 20/10/2023
Horário 05:00

Como seria o mundo sem a Amazônia? Seria um mundo mais quente e seco: somente no Brasil, a temperatura subiria 0,25°C e haveria 25% menos chuvas, segundo uma estimativa feita em 2019 pelos pesquisadores brasileiros Adalberto Veríssimo, Tasso Azevedo e João Biehl, e o americano Stephen Pacala.
O fim da floresta parece algo distante, mas não será se continuarmos na mesma toada. Segundo o Imazon, o desmatamento no primeiro semestre de 2023 foi 60% menor do que no mesmo período do ano passado, mas a área destruída (1.903 km2) é a sexta maior desde 2008 - e equivale a mais de mil campos de futebol desmatados por dia.
O problema, porém, vai muito além do bioma. A Amazônia também é casa de uma enorme diversidade de pessoas, histórias e contextos, que, em comum, são marcados por uma imensa desigualdade. É o que apontam dados organizados pela rede Uma Concertação Pela Amazônia sobre a  Amazônia Legal - território que compreende os sete Estados da região Norte, além do Mato Grosso, no Centro-Oeste, e parte do Maranhão, no Nordeste.
Enquanto o percentual de pessoas em situação de pobreza registrado em 2021 na Amazônia Legal é 45%, no restante do Brasil é 26,9%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nesse mesmo ano, a renda domiciliar per capita foi R$ 868, na região, e R$ 1.431, nos demais Estados brasileiros. Informações do DataSUS apontam que a mortalidade infantil em 2021 na Amazônia Legal foi 14,4 para cada mil nascidos vivos - acima da média no resto do país, de 11,4. Já o Ideb, aferido pelo Inep, foi 3,4 no ensino médio dos Estados da região, em 2021, frente a 4,1 no Brasil; e o percentual de jovens de 25 a 29 anos com ensino superior completo 22,5, e 14,5%, respectivamente.
Se, por um lado, a redução do desmatamento tem relação com políticas públicas voltadas à conservação da floresta, por outro essas mesmas políticas não têm sido capazes de, sozinhas, promover desenvolvimento sustentável que garanta floresta em pé e melhores condições de vida para todos que vivem na Amazônia.
Um caminho promissor é promover o desenvolvimento integral dos jovens para que possam fazer escolhas conscientes sobre sua vida e a participação que querem ter no meio em que vivem. Indivíduos que hoje estão no ensino médio e já são agentes de transformação. Indivíduos que, amanhã, ocuparão os espaços do mundo acadêmico, do trabalho e de lideranças econômicas, políticas, sociais e culturais. 
Nesse sentido, conhecer todas as Amazônias, suas histórias, desafios e potencialidades pela voz de quem vive no território é fundamental para que os estudantes possam se conectar com esse conhecimento e transformá-lo em consciência cidadã, agindo para transformar o mundo.
É isso que se pretende com o Programa Itinerários Amazônicos, realização conjunta do Instituto iungo, do Instituto Reúna e da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, em parceria e com investimentos do BNDES, Fundo de Sustentabilidade Hydro, Instituto Arapyaú, Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.
A iniciativa tem como objetivo promover a Amazônia nos currículos de ensino médio. Ele consiste em ofertar às redes de ensino materiais pedagógicos e formação docente para que os jovens possam aprender, em profundidade, sobre mudanças climáticas, questões sociais, culturais e econômicas da região e os valores tradicionais dos povos da região favoráveis à conservação da floresta. 
Como não poderia deixar de ser, o programa foi feito com a participação ativa de pessoas que conhecem profundamente todas as Amazônias do Brasil: mais de 120 educadores, técnicos de secretarias de Educação, lideranças e jovens amazônicos, além de especialistas de todo Brasil. 
Formação docente para discutir em profundidade a Amazônia nas salas de aula é essencial para ampliar o conhecimento dos estudantes. Reforçar a Amazônia nos currículos é necessário, pois pensar seu desenvolvimento sustentável é papel de todos. Mas ela não é responsabilidade apenas dos governos.
Diante do alerta da ONU para o risco do não cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, a parceria entre governos e sociedade civil é apontada como essencial para alavancar as ações rumo a essas metas nos próximos sete anos.
Mesmo que o cumprimento integral dos ODS seja pouco provável no prazo definido pelas Nações Unidas, e ainda que o desmatamento irreversível de partes da Amazônia não tenha sido completamente evitado, agir para alcançar o máximo de resultados é fundamental para evitarmos uma catástrofe ambiental e social. Promover uma educação capaz de possibilitar que os jovens do ensino médio de todo o Brasil conheçam e ajam a favor da Amazônia é cuidar do planeta.
 

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