Edison Luiz dos Santos, Tarabai - Jogador profissional de futebol

Foi uma grande história, tanto para mim como para Presidente Prudente

Esportes - PAULO TAROCO

Data 06/07/2017
Horário 14:35
José Reis, De férias em Prudente, Tarabai falou sobre as lembranças dos dez anos do título do Opec pela Segunda Divisão
José Reis, De férias em Prudente, Tarabai falou sobre as lembranças dos dez anos do título do Opec pela Segunda Divisão

Após dez anos do último grande feito conquistado por uma equipe profissional de Presidente Prudente, quando em 2007 o Opec (Oeste Paulista Esporte Clube) venceu o Campeonato Paulista da Segunda Divisão e garantiu o acesso à Série A-3 de 2008, o artilheiro da competição daquele ano, Edison Luiz dos Santos, Tarabai, 31 anos, autor de 22 gols, recebeu a equipe de O Imparcial para uma entrevista em sua residência, em Prudente, no último dia 24 de junho, quando ainda estava de férias na cidade. O artilheiro, natural de Osasco (SP), leva no nome a cidade da região que o recebeu, juntamente com sua mãe, aos oito anos de idade. De lá, o jogador começou a se destacar no futebol da região, até chegar ao Opec e, a partir da história construída no clube, ele pode apresentar Tarabai por onde passou.

 

Qual foi o diferencial que fez você deslanchar e ser o artilheiro daquele time campeão, em sua primeira oportunidade como profissional?

Ali eu ainda era muito novo para fazer uma análise. Tinha 21 anos, quando recebi essa oportunidade. Pela idade ainda não tinha muita noção de como que seria. Minha expectativa era fazer um campeonato bom, o máximo de gols que eu poderia, para que oportunidades em outros times aparecessem. Sabemos que no futebol, se você não fizer gols, ou não apresentar um futebol de alto nível, você não será reconhecido, então tive que ter personalidade e tentar ser diferenciado. E foi um ano maravilhoso, a partir do momento que comecei fazer os gols a confiança começou aparecer. Quando cheguei no Opec, determinei: ‘Vou fazer os gols que o time precisa, pois sou atacante!’. Na época eu ainda jogava pelas pontas, que era mais difícil ainda. Foi uma grande história, tanto para mim como para Presidente Prudente, que teve pela primeira vez um artilheiro nessa divisão. Conseguimos dar o acesso ao time, jogando em casa, com um gol que fiz de cabeça, com o objetivo que tracei no início, fazer os gols e buscar meu reconhecimento, pois atacante vive de gol.

 

A cidade pode completar 10 anos sem um título ou um acesso no futebol profissional em 2017. Praticamente o mesmo jejum de quando o Opec sagrou-se campeão, já que o acesso do Corinthians de Prudente à Série A-3 ocorreu em 1996. Diante disso, qual foi o segredo da equipe em 2007?

Tínhamos um grupo muito focado, com jogadores da região, mas de diversas cidades. O grupo era muito unido, nada nos abalava, por mais que tínhamos dificuldades, como financeira. Na época tínhamos um salário, mas nada fantástico, que podia dar algo melhor para o sustento da família. Mas tínhamos objetivos, todos os jogadores conseguiram analisar bem seu próprio objetivo, o que cada um queria e, ali o objetivo maior de todos era ganhar o campeonato, para que outras oportunidades surgissem. Então fechamos nisso, o segredo daquele sucesso foi o grupo, desde o roupeiro, passando pelos jogadores, comissão técnica e até o presidente, éramos muito unidos.

 

Isso durou? Você ainda tem contato com todos?

Com poucos, com todos não, até pelo tempo que já se passou. Mas sempre que venho a Prudente procuro ver os meninos que já joguei. Alguns já largaram o futebol e trabalham em banco, ou viraram policiais, foram para áreas diferentes. Mas procuro estar em contato com o pessoal, pois foram e ainda são muito importantes pra mim.

 

Parece pouco tempo, mas em dez anos é possível se trabalhar ou fazer alguma coisa. O que mudou no futebol profissional prudentino de lá para cá? Evoluiu?

Sinceramente acompanho pouco, mais pela internet e sobre os grandes clubes de São Paulo. Mas em minha opinião não evoluiu, se não teríamos um clube disputando uma vaga na Série A, talvez B, que fosse na C ou D do Brasileiro. Eu acho que Prudente necessita de um time que tenha mais pessoas por trás ajudando. A cidade tem uma estrutura muito boa, um estádio maravilhoso, se tiver maior respaldo empresarial, com maiores investimentos. Como em anos atrás tivemos o Grêmio, que teve sucesso, mas acabou após o fim da parceria. Por isso, acredito que não houve nenhum salto, a coisa não se encaixou.

 

Como foi sua saída do Opec?

Antes de acabar meu contrato no fim do ano eu já havia dito que não queria sair do Opec. Fomos campeões, fui artilheiro e eu queria ficar. Tive cinco propostas na minha mão, que passei todas ao Adriano [Gerlin da Silva], empresário e dono clube. Três propostas eram muito interessantes. Fiquei sabendo só depois de meses que havia o interesse do Santos, São Caetano e Palmeiras. Pessoas que trabalhavam com o Adriano chegaram em mim e falaram sobre as propostas, mas que ele não quis me liberar. Não sei a razão, se foi por dinheiro, se ele achou que não ganharia o necessário, se foi por conta do projeto, não sei os motivos, mas me senti prejudicado. Fui para o Adap/Galo, de Maringá. Assinei contrato de um ano e fiquei lá em torno de cinco meses, até terminar o campeonato. Depois fui jogar a Segunda Divisão pelo Campo Mourão, onde tive uma média muito boa de gols. Então fui para o Marcílio Dias, na época treinado pelo Sérgio Ramirez, mas tive uma lesão muito grave e rara, no cruzado posterior, no melhor momento de minha carreira. Fui artilheiro por onde passei, então estava num momento muito bom, mas fiquei um ano parado, sem poder jogar a Série C do Brasileiro. Me tratei na clínica do Atlético (PR). Quando me recuperei fui dar os próximos passos no Londrina, depois no Iraty, em Irati, no Paraná, mas sem aquela confiança. Foi quando o Rio Preto me deu uma oportunidade para disputar a Série A-2 do Paulista. Não fiz muito gols, mas foi lá que tive a primeira proposta para o exterior.

 

Para um clube de Malta?

Sim, através de um parceiro da época do Opec, o Lucas Ramon. Ele jogou comigo na época do acesso à Série A-3, era zagueiro, e me ligou e perguntou se eu estava desempregado. Expliquei a ele que estava no Rio Preto. Ele perguntou: ‘Quer vir para Malta?’ Eu disse: ‘Nem sei onde que é, mas quero sim!’. Ele me explicou que era no sul da Itália e eu disse que queria. “le conversou com o empresário, uma semana depois a passagem já estava comigo.

 

Malta tem uma tradição de receber muitos jogadores brasileiros. Como foi sua adaptação e como é viver em Malta?

Eu não falava outro idioma, não falava inglês, mal falo português (risos). Cheguei lá era tudo na base dos gestos. Mas dentro de campo não tem língua, é só futebol, é coisa que você sabe o que fazer. O treinador apontou ali, você sabe que tem que finalizar pela esquerda, para o outro lado, sabe que é pela direita. De início foi pouco complicado, tinha mais três brasileiros no time, aí que não treinei meu inglês, pois fiquei mal acostumado, falava só português. Até que chegou um jogador local e nos ajudou. Ele trouxe uma lista com palavras e termos do futebol e nos ajudou. Depois conheci uma menina de lá, que me ajudou no inglês e eu a ajudava com aulas de português, aí comecei aprender. O primeiro ano não foi fácil. O time que joguei, o Vitoriosa Stars, havia acabado subir à Primeira Divisão. Fiz seis gols em 15 jogos, mas o time foi rebaixado. Voltei para o Brasil desempregado, mas eu tinha feito um campeonato muito bom, que chamou atenção de outras equipes maiores do país. Foi aí que eu voltei para o Hibernians.

 

Adaptado e em um clube maior, como foi o ano seguinte?

Primeiramente, tentei esquecer tudo o que passei de ruim no ano anterior. Quando soube da proposta do Hibernians, rapidamente disse que sim, pois sabia que não tinha dado o meu melhor lá. Sabia da minha qualidade, aceitei sem saber o valor, pois iria até se fosse bem abaixo. Assinei por mais um ano, com possibilidade de renovação para mais um. Cheguei uma semana depois, com mais três brasileiros, onde conseguimos deixar a equipe lá em cima, o que foi um grande feito, pois no ano anterior ela brigou para não cair. A gente deu o título a uma equipe que não vencia a mais de dez anos. Foi histórico pra mim, pois fui artilheiro, melhor jogador estrangeiro no país. Estava praticamente morto no primeiro ano, mas ressuscitei no segundo ano.

 

E como chegou à Hungria?

Assinei por um ano, através de outro empresário, com o Kecskemét, time de uma cidade pequena perto de Budapeste, capital da Hungria. Foi uma proposta boa, me animei, pois havia batalhado muito para isso. Encarei como um novo desafio, não me abalei. Já tinha o aprendizado anterior, mas uma semana antes de me apresentar torci o tornozelo, mas o clube solicitou minha presença mesmo assim, para me tratar lá. Quando o campeonato começou ainda estava me tratando. Ali vi que teria que ralar, mas quando voltei aos treinos, senti de novo. Voltei na 15ª rodada e o treinador me aproveitou em outra função, não fiz muito gols, mas me destaquei ajudando de outras formas. Mas uma crise financeira, com atrasos salariais, impediu minha renovação, apesar das tentativas do clube. Então voltei para Malta para ser artilheiro de novo.

 

Aí começa sua melhor temporada? Comparações com Romário feitas pela mídia do Brasil. Nome na lista dos maiores artilheiros das ligas europeias, ao lado de Messi, Neymar?

Foi outro ano histórico. Me lembro de uma ligação que recebi de um canal de TV e fiquei sabendo de como a imprensa brasileira estava se referindo a mim. Não tinha essa meta, meu objetivo era fazer gols, agarrar as oportunidades, mas foi uma sequência excelente essa de 2013 e 2014.

 

Em 2015 você recebeu uma proposta de um time da Coreia do Sul. Ficou frustrado?

Sim, eu tinha uma expectativa maior. Inclusive, esse time da Coreia do Sul é recém-formado. Eles queriam a contratação do Camilo [Sanvezzo, de Prudente], pois o treinador havia trabalhado com ele no Vancouver, do Canadá, mas não deu certo com ele. Foi quando eles me contrataram, sabendo que jogamos juntos no Opec. Foi outro desafio, outro recomeço, foi onde vi que sou um jogador de fácil adaptação, o que não é para qualquer jogador, alguns não conseguem. Primeiro já me compararam com o Neymar. Também usava cabelo corte moicano e tínhamos uma semelhança física, mas falei que qualquer comparação dentro de campo me complicaria, pois não tínhamos a mesma habilidade. Me destaquei lá já no primeiro ano, fazendo 18 gols em pouco mais de 20 jogos, o que chamou a atenção deles, pois havia chegado de Malta, um país sem tradição no futebol...

 

Você nunca teve convite para se naturalizar e jogar pela seleção de Malta?

Sim. Até hoje sou comprado ao maior jogador na ilha, um nigeriano, artilheiro, que jogou comigo inclusive. Um dos diretores da federação trabalha no meu clube, ele chegou em mim e fez o convite para assinar o passaporte, virar maltês e jogar na seleção. Disse a ele que consultaria minha família, inclusive eu sempre comentava com amigos de lá que esse tipo de oportunidade aos estrangeiros poderia ajudar a seleção local, aí surgiu a proposta. Conversei com minha mãe, meus irmãos. Quando conclui que meu sonho era jogar na seleção, mesmo sabendo que não teria essa chance. Havia a esperança, por isso disse não.

 

Se arrependeu?

Não, mas ficou essa pendência, por tudo que fiz no país. Aceitaria se fosse hoje.

 

Após grandes desafios, espaço garantido em mercados menores, duas boas temporadas na Coreia do Sul, chega a oportunidade em um cenário um pouco maior e mais rico, a Arábia Saudita. Como esta sendo lá?

Estou emprestado pelo meu clube de Malta. Houve proposta de times grandes da Coreia do Sul, mas não me liberaram, me liberaram para a Arábia Saudita, que tem um campeonato de nível técnico baixo, como Malta. Antes disso, tive também proposta de um clube de Omã, pequeno país do Oriente Médio, mas preferi jogar na Arábia. Nesses seis meses tive poucas oportunidades, fiz 10 jogos. O treinador preferia um atacante alto, por isso ele não me colocava pra jogar. Mas ele viu que eu era baixinho, mas podia confiar em mim, por ter outras qualidades. Entrei a partir de um amistoso contra o time chinês do Shangai SIPG, do brasileiro Oscar. Perdíamos de 1 a 0 e fiz o gol de empate da equipe. Aí o contrato, que era de seis meses, foi para um ano. Volto para lá após as férias, para iniciarmos a pré-temporada. O campeonato começa em agosto, agora volto com o objetivo de jogar muito e fazer muitos gols. Lá é um país muito conversador, difícil para viver, por isso quero fazer um campeonato bom, me destacar e, talvez, alcançar um centro ainda maior. Quero fazer pelo menos uns 15 gols e ver o que vai dar.

 

Você tem uma história muito rica de superação e persistência. Alguns jovens jogadores, por muito menos, ficam pelo caminho. Qual seu principal segredo?

Com certeza é a persistência. Poucos conhecem as dificuldades que passei. Me vejo sim como um guerreiro. Passei por muito sofrimento, quase larguei a bola. Um amigo, o Douglas, me incentivou muito nesse sonho, nessa batalha. Me vejo como um rapaz que veio do nada, onde poucos acreditavam, sofri preconceito e críticas, que serviram de motivação. Provei que sou um vencedor. Vou lutar até o fim pelos meus objetivos, sempre com Deus junto comigo e me guardando.

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