E se a locomotiva para?

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 22/07/2020
Horário 04:18

Haja terra para cobrir o buraco em que se encontra um país que nem se livrara, ainda, da recessão dos tempos de pré-pandemia. Como preencher a gigantesca lacuna, agravada nesse ciclo de enfrentamento da crise econômica, cujos recursos têm sido desviados para combater a pandemia da Covid-19? Se as novas toneladas de terra para tapar o buraco mexerem com o bolso dos consumidores na forma de um imposto que lembre a malfadada CPMF, conforme intenciona o ministro Paulo Guedes, a vaca irá logo ao brejo, inviabilizando a escada política em que tentará subir uma leva de candidatos comprometidos com o status quo.
O fato é que o país se encontra em recessão, com empresas autorizadas a suspender contratos, diminuir jornadas e reduzir salários, expandindo a massa de inativos e com apenas 83,7 milhões de brasileiros ocupados de um total de 170 milhões em condições de trabalhar. Alguém terá de pagar a conta logo nesse momento que aponta para o empobrecimento da população pós-pandemia. Parcela forte das margens sociais já padece de fome. 
O governo se vê diante de um impasse: arrumar recursos para poder cumprir tarefas de seu cotidiano em áreas fundamentais e, ao mesmo tempo, alongar os braços sociais, com meios que possam garantir a sobrevivência de contingentes carentes. O auxílio emergencial será passageiro e Guedes afirma que o governo não tem caixa para bancar a fortaleza social. O que fazer?
Pelo andar da carruagem, será difícil que ela chegue nas localidades em condições normais. Veremos cavalos trôpegos, cansados e famintos. E não será recebida com festa pelas populações que irão às urnas em 15 de novembro. Todos os corpos da pirâmide social se encontrarão abalados pela catástrofe perpetrada pelo maldito vírus. 
A seguir, emergirá o vulcão das classes médias. No seu interior, fervilham adjetivos e substantivos de todos os tipos, dos mais baixos aos mais altos, versando sobre a corrupção na política, a roubalheira, a má gestão dos serviços públicos, a relação entre autoridade pública e endemoniados. 
Comparemos a economia como a locomotiva que puxa os vagões das classes. Se emperrar ou correr em ritmo muito lento, criará balbúrdia e revolta nos passageiros. 
Os altos figurões da administração - Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, o governador do Estado e o prefeito - estão na linha de frente conduzindo a locomotiva. Se a locomotiva for daquelas antigas, uma Maria Fumaça, pode faltar lenha no meio da jornada. Parada nos trilhos, sem fumaça e sem esperança de chegar ao destino, os passageiros só terão uma alternativa: virar as costas a candidatos sem lenha e andar a pé até a próxima estação.

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