Dramaticidade e comédia

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 29/09/2019
Horário 05:10

“Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas”. Rainer Maria Rilke

Um evento que teve dramaticidade e comédia, se fosse um filme, seria classificado no gênero de um genuíno “Pastelão”. Os atores desse drama - comédia - são da nossa aldeia: Meus dois irmãos, Sergio e Teco, Nelsinho Ruiz (In Memoriam), Marcio Ceravolo e Ciro Macuco (In Memorian). Era um dia como outro qualquer, Sergio, Teco e Nelsinho, mais conhecido como Nelson Patola, estavam no mundo da lua, conversando sobre o futuro de Marte, na Cooperativa da Avenida Washington Luiz.

De repente, não mais que de repente, encosta uma perua Toyota verde abacate, com sua tremedeira original, que parecia que estava com Mal de Parkinson, era o Marcio Ceravolo. Notam que seu olho direito estava inchado. O que aconteceu Marcio? Ele envergonhado faz cara de coitado. O que aconteceu? Fala logo. Marcio murmura: “O Ciro me bateu. O que? Fala mais alto. O CIRO ME BATEU. Que Ciro? O Ciro poxa, só existe um Ciro que vocês conhecem. Ecoou a voz da indignação misturada com uma expressão e sensação de surpresa: Você apanhou do Ciro Macuco? Sergio e Nelsinho ainda surpresos ficavam repetindo: Como você apanhou do Ciro? Não é possível Marcio, o Ciro é um moleque. Será?

Fazia alguns anos que eles não viam o Ciro, ficaram com a última imagem de anos atrás. Aonde está esse pivete? Olha, deixa isso pra lá, pediu com a voz de medo, a vítima. Deixa pra lá? Que isso Marcio? Você é nosso amigo, fala logo aonde esse merda está que vamos dar uma surra atemporal nele. De tanto insistir, Marcio disse que o Ciro estava no Tênis Clube. Subiram na Toyota verde abacate, com Mal de Parkinson, o Teco que tinha ido ao banheiro chegou sem entender nada perguntando: Aonde vocês vão? Nelsinho olha para o Sergio que olham para o Marcio com o olho direito inchado e falam: “VAMOS MATAR O CIRO”.

O Teco tinha 1,35 de altura se empolgou e disse: eu vou também. Seu ímpeto de valentão foi contido: Não vai não, isso é briga de cachorro grande. Eu quero ir, eu quero ir, eu quero ir, repetia o Teco. Porque todo baixinho é invocado? Tá bom, mas fica dentro da perua. Marcio ligou a perua Toyota que na descida atingia no máximo pisando fundo no acelerador, a velocidade de 20 Km por hora.

E, lá foram os amigos se sentindo que eram da Liga da Justiça. Pararam no Tênis prontos para dizimar o moleque insolente. Seu Mário Tumitan, gerente do Tênis Clube, que conhecia a todos desde pequeno sentiu o clima de guerra e tentou contê-los: Aonde vocês vão? Cadê o Ciro, seu Mário. Por que? Não vão fazer confusão, pelo amor de Deus. Deus não tem nada a ver com isso, disse Nelson Patola. Olha o Ciro lá no salão, disse entusiasmado o Teco. Volta pra perua. Não, não, não. Tá bom, para com essa manha, mas fica atrás de nós, exigiu Patola.

Os amigos entraram pisando forte e confiantes. Ciro estava sentado na mesa de costas. Quando o bando selvagem se aproximou, perceberam que o Ciro já não era aquele moleque franzino de tempos atrás. A largura das costas dele, fazendo uma comparação sem exagerar, era mais larga que a largura do Rio Amazonas. De costas, Ciro emitiu uma voz de trovão: Vieram apanhar também, igual esse merda do Marcio? Começou a levantar da cadeira e aquele ex-moleque não parava de emergir.

Ciro que isso? Como você cresceu, disse Sergio. Querem apanhar também? O que mais impressionou foi o tamanho da mão do Ciro, parecia uma raquete de tênis. Calma Ciro, não é bem assim, despistou Nelson Patola. Oh Marcio, por que você não falou que o Ciro cresceu? Eu tentei, mas vocês não quiseram ouvir. Sergio sussurra no ouvido do Nelsinho: segura o braço direito que eu seguro o braço esquerdo e o Marcio vem e dá uma porrada nesse gigante. O que estão cochichando? Não é nada não. De repente, Sergio dá o sinal:  AGORA. Que vexame. Cada um segurou o braço do Ciro e gritavam: Dá Marcio, dá a porrada logo. Ledo engano. Nessa altura do campeonato os dois estavam girando como se estivessem no Chapéu Mexicano de algum parque. A força centrífuga do giro do Ciro jogou esses dois ex super-heróis debaixo das cadeiras e se ralaram todo. O Marcio acaba levando outra porrada, dessa vez no olho esquerdo. Saem voando em direção à portaria, correndo mais que o Papa Léguas, personagem do desenho animado, entraram na Toyota verde abacate que demorava a pegar. Seu Mario tentando acalmar o "GULLIVER" prudentino: Calma Ciro. Liga logo essa merda Marcio, que com os dois olhos inchados só chorava.

Seus covardes, gritava Ciro. Que isso Ciro? Sou o Teco, lembra? filho da dona Mariana. A Toyota lentamente foi andando, o gigante chutando a porta gritando: Seus Merdas. Pô Marcio que gelada que você nos colocou. Eu? Chegando perto do Cine Presidente, viram o irmão do Ciro, o Celso. Resolveram descontar a frustração, a raiva, o vexame a vergonha em cima do coitado do Celso, que sem saber de nada apanhou mais que bife de pensão. Vejam vocês.

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