"Como é difícil tornar-se herói/ Só quem tentou sabe como dói"... Aldir Blanc
Na distante ilha de Okinawa, localizada no sul do Japão, o químico Munemuro Gakiya e sua mulher Nae se preparam para fugir dos horrores da guerra. Seu destino é o Brasil. Os anos passam e Munemuro cria as bebidas Sparta, depois de perder tudo com as plantações de hortelã. Seu filho Roberto Gakiya, taxista, se casa em São Paulo com a descendente de italianos, Alzira Formici. Roberto e Alzira vão a Prudente para trabalhar na empresa de seu pai. Tiveram dois filhos: Lincoln e Leila.
Roberto perde a vida num acidente de carro no Estado do Paraná. Lincoln tinha apenas 9 anos de idade. A vida se torna muito difícil, pois sua mãe dependia apenas da parca pensão do INSS do seu pai. Vão morar numa casa de tábua na Rua Pedro de Toledo na Vila Industrial. O menino Lincoln começa a trabalhar aos 14 anos na Mecânica Ricci como office-boy. Alguns anos depois, entra no Banco Mercantil de São Paulo e posteriormente é aprovado no concurso para trabalhar no Banespa. Ingressa na Faculdade de Direito da Toledo.
Levantava todos os dias às 4h30 para estudar, queria passar no concurso de promotor de Justiça. Seus estudos iam até as 9h, depois ia para o banco e depois para a Faculdade Toledo. Seu esforço e sua inteligência o levaram a ser aprovado no primeiro exame. A felicidade tomou conta da sua família, se sentiu orgulhoso. Quer ser um promotor e escutar sempre a voz da coragem e entregar para a sociedade o que acredita. Sabe que toda a nossa cultura nos coloca na caixa do medo, e de medo em medo, a luz da justiça vai se apagando, destruindo crenças, fé, ideais e sonhos.
Não deseja ser engolido pela apatia, pela indiferença e nem fazer o que é mais cômodo. O idealismo ainda bate forte em seu peito. Depois de experiências na área penal, na qual ele toma gosto, assume o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Dr. Lincoln passa a conhecer o sistema e sente que a política e a Justiça não combinam. Os políticos agem conforme suas conveniências e a Justiça age conforme a lei. Mas são os políticos que governam.
Em janeiro de 2005, recebe sua primeira ameaça de morte, depois do nascimento do seu segundo filho. Uma investigação contra um criminoso de uma facção criminosa teve êxito. Não se intimida e acaba resolvendo essa ameaça. Tem um forte senso de patriotismo, quer que a Justiça vença sempre. Em 2013, lidera uma brilhante investigação contra essa facção, a maior da história do MPSP, e a polícia prende em torno de 1.200 bandidos. Houve confronto e mortes. A mídia não conhecia o Dr. Lincoln e nem o alto comando da facção. Agora eles conhecem.
O promotor continua sua cruzada e seu grande objetivo é a transferência dos líderes da facção criminosa para fora do Estado de São Paulo, quer enfraquecer as lideranças do grupo. Mas a política de Segurança Pública do Estado de São Paulo não tem a mão pesada, e a facção aproveita e cresce numa velocidade recorde. Eles sabem como funciona o sistema. Dr. Lincoln insiste na tese da transferência e depois de alguns anos lutando fica desiludido, frustrado com a atitude do governo de SP. Não desiste e se vê obrigado a assinar sozinho a transferência dos principais líderes do grupo. Teve ajuda significativa do major e senador Olímpio (in memoriam).
O alto comando da facção o coloca como seu inimigo número 1. São 16 anos de investigação. Sua vida privada perdeu a independência e a tranquilidade. Culpa do próprio Estado que o deixou sozinho. Dr. Lincoln se preparou, estudou os atos terroristas no mundo contra autoridades, lembrou do seu amigo, o juiz Antônio Machado Dias, primeiro juiz assassinado por essa facção. Esse é o alto preço que ele está pagando por querer cumprir sua nobre missão.
Por onde quer que vá, a qualquer hora, a qualquer dia, será sempre escoltado por valorosos policiais fortemente armados, pronto para matar ou morrer, cumprindo seu duro dever, eles o respeitam e o admiram. Um novo modo de viver onde ele caminha a passos firmes de braços dados com a coragem, vencendo o medo, e fazendo o que acredita, enquanto o Estado caminha apoiado em bengalas da omissão e da covardia. A sociedade, carente de homens idealistas e patriotas, sente que está diante de um herói, mas ele gostaria que o herói fosse o Estado. Nessa ótica pergunto: Quem são os verdadeiros criminosos?