A medicina está em luto. Morreu nesta segunda-feira (27), em São Paulo, o renomado médico José Carlos Prates, professor aposentado de Anatomia da EPM (Escola Paulista de Medicina) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Considerado um dos mais importantes professores de Anatomia do Brasil, ele teve grande contribuição na construção da Famepp (Faculdade de Medicina de Presidente Prudente), sendo inclusive o primeiro professor de Anatomia do curso. Começou a lecionar na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) em 1988 e enquanto docente até 1995, ano em que deixou a instituição, também deu sua parcela de contribuição no projeto audacioso do professor Agripino de Oliveira Lima Filho, que resultou na construção do então HU (Hospital Universitário) Dr. Domingos Leonardo Cerávolo – hoje Hospital Regional de Presidente Prudente.
Prates tinha vasta experiência na área de morfologia, com ênfase em anatomia humana. Doutora em Bases Gerais da Cirurgia, a professora Maria Inês Meira Dolfini, que leciona as disciplinas Anatomia I, II e III no curso de Medicina, é uma das profissionais que trabalhou diretamente com Prates na Unoeste. Em 34 anos de dedicação ao curso, ela recorda com muito carinho e respeito a importância que teve o renomado professor anatomista na Faculdade de Medicina de Presidente Prudente. “Prates, juntamente com todo seu conhecimento e amor ao estudo da anatomia humana, nos trouxe a postura de um professor apaixonado pelo ensino médico. Além do ensino e conteúdo anatômico, ele também nos auxiliou no desenvolvimento do espaço físico dos nossos laboratórios e nos cuidados com as nossas peças anatômicas. De forma que pudessem se manter adequadas por longo tempo e tratadas com todo respeito que esse material anatômico requer para nos auxiliar no ensino de futuros médicos que vão defender a vida”, revela.
A professora lembra ainda que Prates também auxiliou todos os novos docentes nas partes cognitiva e didática, “sendo um exemplo de profissional, que ensinava com alegria, dignidade e amor”. “Mais do que simplesmente ensinar, ele se preocupava se o aluno realmente iria aprender, pois há um caminho distante entre um e outro. Fazia questão que durante suas aulas, os conhecimentos gerais também fossem ensinados juntamente com os ensinamentos anatômicos. Era um homem sábio, culto, inteligente, sereno e sempre jovem. Que ensinava a anatomia humana como ninguém. E que aliado a todos esses ensinamentos, também ensinou algo muito importante: o amor ao trabalho e o respeito ao ser humano. Embora ele nunca se colocasse como tal, os seus conhecimentos sempre o faziam chefe e ele vai ser sempre lembrado como tal”.
O diretor das Faculdades de Medicina da Unoeste, Murilo de Oliveira Lima Carapeba, emitiu uma nota de pesar em nome da Unoeste e da Famepp. Nela, ele ressalta a importância que o professor Dr. José Carlos Prates teve por meio de seu trabalho e dedicação na universidade. “Dr. Prates foi o primeiro professor de Anatomia da Famepp e por aqui contribuiu por muitos anos na importante missão, que culminou com a formatura da primeira turma da qual foi patrono no ano de 1993. Seu nome está eternizado na Faculdade de Medicina em nossa Associação Atlética Acadêmica, que tem seu nome ‘Dr. José Carlos Prates’”, lembrou.
Na nota, Murilo também estendeu condolências à família e amigos de Dr. Prates. “Deixamos registrado nossos agradecimentos e condolências à família, amigos e todos que tiveram o privilégio de com ele conviver e aprender na busca constante pelo conhecimento. Por aqui seguimos com o propósito de transformar vidas, a qual meus avós, Agripino de Oliveira Lima Filho e Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima [em memória] sempre tiveram como prioridade e o qual o Dr. Prates também compartilhava”.
O Diretório Acadêmico Dr. José Hamilton do Amaral, e que no passado, antes da atual homenagem a Dr. José Hamilton, também chegou a homenageá-lo em sua nomenclatura, se manifestou com profundo pesar a respeito da morte do professor Dr. José Carlos Prates. “Sabemos da sua importância para o curso de Medicina da Unoeste, tendo em vista que foi um dos responsáveis por implementar essa graduação na Unoeste. Nossos sentimentos aos familiares e amigos, e que ele descanse em paz”, assina a presidente do DA, Roberta Brinholi.
A Associação Atlética Acadêmica que leva o nome do Professor Dr. José Carlos Prates disse que é chegada a hora de se despedir daquele que empresta seu nome para a Associação Atlética. “Dr. José Carlos Prates foi escolhido para tal função por ser um grande personagem na história da Medicina Prudente. Aqueles que o conheceram relatam que, além de exímio professor da Unoeste e anatomista mundial, foi um grande ser humano, muito querido, com muita sabedoria e inteligência. De tal modo, que contribuiu para a formação de milhares de médicos. Nossos sentimentos aos familiares e amigos, e que Deus o receba em seus braços”, se manifestou o presidente da Atlética, Rafael Silva Ferreira.
Também por meio de nota, a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) lamentou profundamente o falecimento do professor Dr. José Carlos Prates e prestou condolências e solidariedade aos familiares.
Numa das últimas visitas que fez a Presidente Prudente, no dia 4 de abril de 2011, o professor Dr. José Carlos Prates visitou a Unoeste e na época foi recebido na reitoria pelo chanceler Agripino de Oliveira Lima Filho. Nas recordações que lembraram durante a conversa, falaram de amizades, trabalho e da dedicação de Prates quando de sua passagem pela Famepp. Lembrou que quando aceitou o desafio já trabalhava na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). E que veio autorizado pelo ministro à época para ficar na cidade até a conclusão da primeira turma de Medicina da Unoeste.
Na visita de cortesia, Dr. Prates reviu alguns funcionários e professores de Medicina, e fez questão de enaltecer os esforços e dedicação dos fundadores da Unoeste na construção do então Hospital Universitário, hoje Hospital Regional, estadualizado em fevereiro de 2009 e administrado pela Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus. Em 2011, além de professor titular na Unifesp, ele também acumulava os cargos de assessor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; de assessor da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro; de assessor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; e de assessor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
José Carlos Prates nasceu em Piracicaba, no interior do Estado de São Paulo, no dia 5 de julho de 1933. Em julho próximo, iria completar 90 anos. Filho de mãe italiana e pai descendente de portugueses, é o segundo mais velho de seis irmãos. Toda a sua formação foi desenvolvida em escolas do município até o ingresso na universidade. Decidido a cursar Medicina, não quis ficar muito longe da família e optou por estudar na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Sorocaba, a aproximadamente 1h20 de viagem da casa dos pais. Mas o destino havia-lhe preparado algo ainda maior na capital: um caminho bem mais longo, que o levaria à docência, à direção de um departamento e à direção da EPM (Escola Paulista de Medicina).
Em 1966, assumiu o Departamento de Morfologia e Genética, no Campus São Paulo, em razão de um professor mentor que ele admirava – Renato Locchi, por ele considerado um dos melhores professores de Anatomia da América do Sul – se aposentar, lhe confiando o cargo. Anos mais tarde, recebeu a notícia de que seria diretor geral da EPM (Escola Paulista de Medicina) entre 1974 e 1978. Se destacou tanto na direção que o prestígio da EPM aumentou com a atuação do médico anatomista considerado por muitos colegas como um patrimônio da instituição em razão de seu saber científico e de sua relevância internacional na Anatomia.
O médico anatomista aposentou-se há mais de 25 anos por tempo de serviço, em 1997, mas até meados de 2018, 2019 ainda continuava indo à EPM todos os dias da semana – exceto quando a dor nas costas, um problema que o perturbou por longos anos, apertava. O professor Dr. José Carlos Prates se aposentou com a marca admirável de 150 trabalhos publicados, em âmbito nacional e internacional, além de ter orientado 46 dissertações de mestrado e 27 teses de doutorado. Foram tantas histórias e contribuições que seu legado rendeu um livro em sua homenagem intitulado “José Carlos Prates: a Anatomia de uma Vida Dedicada à Medicina”, escrito pelo médico e professor José Aderval Aragão.
Em uma de suas últimas entrevistas concedidas a jornalista Lu Sudré e publicada no site da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Prates falou com orgulho sobre ser professor, missão que levou a sério por uma vida inteira. “A missão do professor é ensinar, orientar, instruir e educar cientificamente. O mestre deve conservar-se jovem a despeito da idade. O professor deve estruturar seu espírito com uma parcela de filosofia e, no sentido clássico, de lógica de raciocínio, autocrítica, acuidade psicológica e amor ao saber, que é o equilíbrio harmônico do pensar. A função do professor requer renúncia, serenidade, bondade, tolerância, respeito aos colegas e alunos, competência e honestidade, mas requer, ainda, sensibilidade moral e social”.
Fotos: Arquivo/Marketing Unoeste
Em 2011, Dr. Prates visitou a Unoeste e foi recebido pelo então chanceler Agripino de Oliveira Lima Filho e estudantes que faziam parte da Associação Atlética
