Dia dos Pais: motoristas  falam sobre conciliação entre paternidade e trabalho

Entre viagens e vínculos, Dirceu e Otaviano desabafam sobre os desafios de criar filhos à distância e a luta contra as marcas deixadas pela vida nas estradas

PRUDENTE - CAIO GERVAZONI

Data 11/08/2024
Horário 06:15
Foto: Caio Gervazoni
Otaviano Mareco (esq.), conhecido como “Véio Marrecão”, e Dirceu (dir.) proseavam no RodoTruck quando toparam com a reportagem na tarde fria e chuvosa desta sexta-feira em Prudente
Otaviano Mareco (esq.), conhecido como “Véio Marrecão”, e Dirceu (dir.) proseavam no RodoTruck quando toparam com a reportagem na tarde fria e chuvosa desta sexta-feira em Prudente

 

Neste domingo de Dia dos Pais, O Imparcial traz o relato de dois trabalhadores das estradas que compartilharam com a reportagem suas vivências no trabalho como motoristas e a conciliação com a paternidade. 

Ao estilo Pedro e Bino, da série “Carga Pesada”, Dirceu Pagã e Otaviano Mareco, conhecido como “Véio Marrecão”, proseavam na unidade da rede de postos RodoTruck, no Jardim Servantes, quando toparam com a reportagem deste diário na tarde fria e chuvosa desta sexta-feira em Presidente Prudente. 

Começamos por Dirceu Pagã. Ele reside no interior paranaense, em Cambé (PR), tem 69 anos, 44 anos de estrada, e um filho, o jovem Carlos Eduardo Alves Pagã, de 22 anos. Dirceu conta que atualmente trabalha como caminhoneiro para uma empresa de logística da cidade de Arapongas (PR). 

Os destinos de suas viagens, segundo ele, variam conforme as necessidades da empresa. “A firma manda fazer onde tiver linha. Eu faço geralmente para Foz do Iguaçu [PR], São Paulo, Rio de Janeiro [RJ] até o Nordeste. Eu ia muito para a Argentina também, mas ultimamente está meio devagar”, pontua o motorista. 

Dirceu relata que já chegou a ficar 25 dias longe de sua família. Ele é casado com Maria Sueli Alves Pagã. “Meu filho mora com a gente. Ele é novo, mas quer casar logo, está namorando uma agente”, diz o motorista ao começar a falar sobre a boa relação que tem com seu único filho. “Ele é um filho-conselheiro. Dá até inveja de ver. Os mesmos conselhos que meu pai e minha mãe me davam – eles já faleceram – minha mulher me dá um conforto para a gente ter calma no serviço e meu filho também dá”. 

Sobre os sentimentos quando está distante da família, Dirceu resume em uma frase. “A saudade aperta”. Ele conta que, atualmente, as empresas estão muita focadas em seus lucros, seu salário é baixo e é necessário viajar longas distâncias para ter um ganha-pão maior, motivo pelo qual muitas vezes está distante da família. O motorista revela que sua diária é de R$ 71 e que não chega a ganhar R$ 2,6 mil em certos meses. “Tenho 26 anos na empresa e viajo para todo lugar”. 

“Não vi meu filho crescer"

Dirceu conta que sua jornada como trabalhador das estradas o impediu de acompanhar o crescimento de seu filho durante a infância. Ao menos, o paranaense conseguir acompanhar o nascimento de Matheus. “Olha, faltava dois dias pra ele nascer. Liguei para a firma e disse: ‘tenho que ir embora’. A sorte foi que eu encontrei um colega no caminho. Ele ia carregar o caminhão dele pra ir embora, passou pra mim e ele foi com o meu para o Nordeste. Eu cheguei às cinco da manhã e às 9h minha mulher ganhou o filho. Quase que eu não chego a tempo de ver o nascimento dele”, conta Dirceu. Segundo ele, quando Matheus era pequeninho, o pai pegava uma trena para medir o crescimento da criança. “Eu não acreditava que ele já estava crescendo daquele tanto”, diz o motorista sob risos.  

Por fim, Dirceu conta que o Dia dos Pais é uma data significativa para ele, mas domingo estará longe de sua família. “Estou com dez entregas aqui na região de Prudente. Já liguei para minha esposa e avisei que não vou passar o domingo com eles.

Mas ainda tem muito ano pela frente para a gente se reunir em casa. No outro domingo, quando eu estiver por lá, a gente vai fazer valer como se fosse o Dia dos Pais”, finaliza Dirceu.

“Meu dia todo é aqui em Prudente"

Otaviano Mareco, conhecido como “Véio Marrecão”, tem 62 anos, reside em Martinópolis e há 14 anos atua como motorista de ônibus no transporte de universitários para Presidente Prudente. “O dia todo é aqui em Prudente. Só vou para a minha casa para dormir”, inicia Otaviano.

Marrecão pontua que seu dia a dia é sofrido. Ele foi diagnosticado com diabetes há alguns anos, porém, não consegue manter a dieta indicada pela nutricionista. “Como eu vivo o dia inteiro fora de casa, eu praticamente só tomo os remédios. Tenho que manter o regime, mas não tem jeito”. 

O motorista está em seu segundo casamento. Ele é pai de três filhos, que seguiram o mesmo caminho de Otaviano e também atuam dirigindo veículos de grande porte. “Eles trabalham com caminhão. Todos eles seguiram a mesma função do pai e também só vivem fora de casa”, confidencia Marrecão.

“O Gabriel é o filho do meio, ele tem 37 anos. O Gustavo é o caçula, tem 34 anos. Eles são do meu primeiro casamento. O mais velho, que não surgiu do casamento, chama Anderson, e atua como motorista do SPCAP para levar os funcionários para o serviço”, conta o pai sobre a atuação dos filhos. 

Sobre a relação com os filhos, Marreco diz que a educação foi dada pela mãe, porém, hoje em dia, o contato com Gustavo, Gabriel e Anderson é maior comparada à rotina que ele seguia quando era motorista da União Cascavel, Viação Motta e depois da Leite Líder. “Foi mais pela mãe e os parentes. Mas depois de um tempo larguei a estrada de caminhão e ônibus viajando nas noitadas. O que tive de herança das estradas é o diabetes que tenho hoje”, finaliza Otaviano, que conheceu os quatro cantos do país como motorista. 

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