Dia da Língua Materna

António Montenegro Fiúza

«Última flor do lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela

Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o tom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura (…)»
Soneto “Língua Portuguesa” – primeira parte , Olavo Bilac, poeta brasileiro 

Para quem se dedica (em reverente prosternação) aos idiomas, com especial focalização para a língua portuguesa, as suas particularidades e o seu potencial unificador e educativo, as comemorações de 21 de fevereiro não poderiam passar em branco, afinal, trata-se do Dia Internacional da Língua Materna, o qual é celebrado mundialmente, desde 2000. 
Ao contrário da língua de Camões, que é a sétima mais falada no mundo e que cresce exponencialmente, várias línguas, idiomas e dialetos correm o risco de se extinguir, pelo contato com outros povos e pela aculturação gradual de termos, modos de viver, de pensar e, por que não, de ser. Com tudo isso, a riqueza cultural do nosso planeta, bem como a diversidade, encontram-se em grande risco.
Embora, no espaço da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, os países se encontrem unidos por laços idiomáticos, a profusão de línguas e idiomas mantém-se: em Angola, fala-se o umbundu, o quimbundo, o congo, o chócue e, pelo menos, mais dezena e meia de idiomas próprios; no Brasil, 274 línguas nativas diferentes, enriquecem o cardápio idiomático;  em Cabo Verde, o crioulo, embora seja único, reverbera—se em cada uma das nove ilhas habitadas, apresentando contornos de diferenciação; na Guiné – Equatorial, o mais recente a integrar a comunidade da CPLP, falam-se o espanhol e o francês, fangue, bubi, balengue, ibo e vários outros; o crioulo da Guiné – Bissau, do qual origina o cabo-verdiano, junta-se ao manjaco, ao fula, ao mandinga, ao balanta, ao papel e ao mancanha; em Moçambique, são faladas mais de 50 línguas, mas apenas 40 são reconhecidas pelo Centro Linguístico do país; mesmo Portugal, é dono de uma grande diversidade de dialetos, subsistindo ainda o Mirandês, pertencente a um grupo asturo-leonês; de São Tomé e Príncipe, chegam o forro, o angolar, o principense e resquícios de línguas do grupo bantu; em Timor, para além do tétum, mais 15 línguas nacionais são utilizadas.
A toda essa abundância linguística, juntam-se as línguas gestuais nacionais, utilizadas em cada um desses países e a língua portuguesa que a todas une, em plena irmandade. 

«(…) Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo
Amo-te, ó rude e doloroso idioma

Em que da voz materna ouvi: Meu filho
E em que Camões chorou, no exílio amargo
O gênio sem ventura e o amor sem brilho.»
Soneto “Língua Portuguesa” – última parte , Olavo Bilac, poeta brasileiro 

 


 

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