Enquanto toneladas de alimentos ainda próprios para o consumo são descartadas diariamente, muitas pessoas enfrentam a dura realidade da fome e da desnutrição. Esse paradoxo escancara uma ferida social que vai além da economia doméstica: trata-se de uma questão ética, ambiental e humanitária. É urgente, portanto, que a sociedade – começando por cada um de nós, dentro de nossos próprios lares – assuma o compromisso de combater o desperdício de alimentos. Na edição deste domingo, a nutricionista de Presidente Prudente, Bia Dorazio, compartilha dicas preciosas para serem colocadas em prática ainda hoje!
O problema do desperdício é mais comum do que se imagina. Sobras que vão direto para o lixo, frutas com pequenas imperfeições ignoradas, partes nutritivas de legumes descartadas por puro desconhecimento. O ato de desperdiçar começa na seleção e termina na falta de planejamento. Mas há caminhos viáveis, acessíveis e saborosos para virar esse jogo.
A conscientização deve partir do gesto mais simples: planejar. Comprar apenas o necessário, armazenar corretamente os alimentos e ficar atento aos prazos de validade já são passos essenciais. Mas é possível ir além. A utilização integral dos alimentos é uma estratégia poderosa. Talos, cascas, sementes – muitas vezes vistos como resíduos – podem se transformar em verdadeiros tesouros nutricionais. O talo da couve rende um refogado saboroso; a casca da banana vira doce ou até "carne louca" vegetal; sementes de abóbora, quando assadas, se tornam petiscos crocantes e saudáveis.
Reaproveitar alimentos é mais do que uma atitude responsável: é uma oportunidade de descobrir novas receitas. Sobras de arroz viram bolinhos ou risotos; aquele pão dormido se transforma em rabanadas, torradas temperadas ou pudim. Há um mundo culinário a ser explorado que alia sabor, criatividade e, o mais importante, respeito.
Reduzir o desperdício também significa economia. Menos compras desnecessárias, mais aproveitamento. Mas o impacto vai muito além do aspecto financeiro. Ao valorizar cada alimento, estamos reconhecendo o trabalho de quem planta, colhe, transporta. Estamos, sobretudo, respeitando quem nada tem para colocar no prato.
É tempo de refletir: o que jogamos fora poderia matar a fome de alguém? A resposta, dolorosa, é sim. Portanto, transformar hábitos dentro de casa é possível – e urgente. Compartilhar receitas, ensinar crianças a valorizar os alimentos, evitar descartes impulsivos. Pequenas atitudes cotidianas têm o poder de mudar a realidade de muitas pessoas. A mudança começa na nossa cozinha. E ela é saborosa, nutritiva e solidária.