A relação que a mulher tem com seus cabelos é algo que só elas sabem explicar. Dizem que elas nunca estão satisfeitas com o que têm. E há tempos, as que os tem crespos, oprimidas por um padrão de beleza imposto pela sociedade, relutavam e tinham dificuldades em aceitarem suas características naturais, tornando-se escravas de químicas fortíssimas, secadores e chapinhas para alisarem suas madeixas. Mas, que bom! Ultimamente, o que se vê por todos os lugares são cachos ao vento,
black powersexuberantes, leves e soltos, ressaltando uma beleza estonteante de mulheres que se orgulham e revelam um momento de conquista de seus territórios. Sim, elas deram um basta à escravidão, e soltando um grito de "liberdade!", trazem de volta um visual único evidenciando os cabelos afros.
Mariana acreditava que somente crianças de cabelos lisos eram bonitas, até que, cansada de secador e chapinha, decidiu assumir sua identidade
Muitas são as histórias incríveis a respeito dessa prisão de conceitos e tendências ditadas. Mariana Fernanda Leonel dos Santos, 17 anos, auxiliar de escritório, que o diga. Os alisamentos a acompanharam desde a infância! "Eu acreditava naquela moda que a sociedade impunha de que somente crianças de cabelos lisos eram bonitas... imagine só falar isso para uma criança?!", indigna-se a garota.
Em determinada época, com os processos químicos excessivos, seu cabelo começou a cair muito, levando-a ao desespero. Mesmo acreditando ser a única cansada da escravidão do secador e chapinha, decidiu assumir sua identidade.
"Graças à cabeleireira Rose Maciel, que agradeço imensamente, vi que ainda tinha solução e que eu não era a única desesperada . O processo de transição foi bem difícil. Ouvi muitas críticas... Não foi nada fácil deixar a raiz cacheada e o resto do cabelo liso! Foram longos oito meses assim! Mas tomei coragem e fiz o meu ‘BC’ , e hoje estou com a cabeleira que simplesmente amo"!, exclama a jovem.
Sem palavras
Mariana enfatiza que não há como expressar a liberdade conquistada. "Só quem está passando ou já passou por uma transição sabe bem como é que funciona. Mas vale a pena. Minha autoestima aumentou 100%. Há muito tempo me sentia presa atrás de alisantes e relaxamentos, hoje livre estou! . Sinto-me linda, mesmo sabendo que não são todos que aceitam meus cachos! Aliás, na minha opinião, os cachos fazem toda diferença em uma pessoa, tanto nas meninas como meninos!, exclama Mariana.
Alisamento nunca mais!
A universitária Jéssica Naomi dos Santos Ferreira, 23 anos, que também não vivia sem alisamentos, superou isso com a ajuda e empolgação do noivo que é do Rio de Janeiro, cidade aonde segundo ela, a cultura do afro feminino é forte, com mulheres ousadas e estilosas. "Há dois anos fui passar as férias lá e me encantei pelos cabelos e acessórios que as meninas usavam. Decidi ali que assumiria de vez a minha cabeleireira", ressalta.
Diferente de Mariana, Jéssica diz que seu processo de transição foi bem tranquilo e sem ansiedade em ter um resultado rápido. Ela cortou o cabelo bem curto, hidratou e esperou o tempo de crescimento curtindo e brincando com todas as fases.
"Depois de muito tempo me encontrei usando meu afro! Sinto-me linda, diferente, ousada, pois amo meu cabelo. Sou negra do cabelo ‘duro’, ou crespo, mas liberta dos alisamentos que os acabam com os fios da maioria. E o legal é ver que aqui em Prudente a cultura afro está ganhando vida, as meninas estão assumindo sua cabeleireira de vez deixando de lado a tal moda dos lisos escorridos. Cada um tem seu estilo e mais importante que seguir tendências é aceitar sua aparência. Ser você mesma!", enfatiza Jéssica.
Sou o que quero ser!
"Já fui alvo de muito preconceito quando era criança com apelidos horríveis que me fizeram sofrer tanto, a ponto de só usar o cabelo preso porque minha mãe não deixava alisar e eu tinha vergonha. Mas, depois que percebi que esse foi o cabelo que Deus me deu, passei a me amar e me valorizar. Minha autoestima é ótima", afirma Bárbara Candido,16 anos, estudante e aspirante a Youtuber que nunca fez alistamentos.
A garota acredita que fica bem mais fácil se amar a partir do momento que a pessoa se aceita do jeito que é e passa a se cuidar como tal, pois ela deixa de "sonhar" com o perfil perfeito implantado pela a sociedade e vive o seu mundo real.
Reinventando a famosa frase "em terra de chapinha quem tem cachos é rainha" Bárbara diz: "Na minha opinião todas as mulheres/meninas são rainhas. E ‘em terra onde todos têm vontade de alisar, as cacheadas se destacam’. Independente de serem lisas ou cacheadas, o que importa é a pessoa se sentir bem com sua aparência. Não adianta passar pela transição para voltar as madeixas cacheadas só porque está na moda, só faça isso se você realmente quiser", aconselha a menina que acredita que "liberdade é poder ser e usar o seu cabelo como quiser".
Bárbara diz que suas madeixas são quase uma pessoa, pois têm vida própria, às vezes está de bom humor, outras um tanto irritado, mas que ela aprendeu a lidar e amar... "É como diz a publicidade de uma marca de cosméticos: ‘oh cabelo, cabelo meu, se você não fosse meu eu não seria tão... EU’! . Tenho bastante gasto com ele, mas vale muito a pena. Os elogios e principalmente perguntas são muitos, por isso criei um canal no YouTube para ajudar as cacheadas... Meu cabelo já foi assunto, inclusive fora do país ", expõe Bárbara.
Para manter sempre belas as suas madeixas cacheadas, Bárbara faz muitas hidratações, cortes de três em três meses, desembaraça apenas no chuveiro, nunca os penteia e seca e finaliza com um processo chamado "fitagem".
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