Pela relevância do tema e do estudo sobre as prováveis causas da dengue em Presidente Prudente, os resultados foram aprovados e publicados por importante revista científica inglesa. No estudo multicêntrico, que ocorre de forma simultânea por meio de um mesmo protocolo em diferentes instituições e que envolveu pesquisadores da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Unesp (Universidade Estadual Paulista) e VEM (Vigilância Epidemiológica Municipal), foram investigadas a distribuição dos casos de dengue entre 2015 e 2021 na área urbana, a distribuição dos depósitos irregulares de resíduos sólidos (lixões clandestinos formados pela população), a presença de fragmentos florestais, drenagem de água, a renda da população e a possível associação desses fatores com surtos de dengue na cidade.
Os dados foram obtidos de órgãos públicos como a própria VEM, Sinan (Sistema de Informação de Agravo de Notificação) e CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) “Professor Alexandre Vranjac”, que coordena e normatiza o SVE-SP (Sistema de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo). Foram gerados mapas de densidade de Kernel (ferramenta de análise espacial/geográfica) para localizar as áreas de maior concentração de indivíduos infectados e de lixões clandestinos, visando priorizar as ações de saúde pública.
De 2015 a 2021, foram registrados 33.026 casos de dengue confirmados em Prudente e a taxa de incidência e mortalidade foi maior em 2016. O número de casos em 2020 e 2021 diminuiu durante a pandemia da Covida-19 em relação a 2019, mas índices alarmantes foram registrados em 2022. “Importante notar que entre os 4 sorotipos de dengue na quase totalidade dos anos, o sorotipo circulante em Prudente foi o do tipo 1, apenas em 2019 circulou o vírus dengue tipo 2”; pontua o coordenador da pesquisa Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro.
Conta o pesquisador que em 2015 grande parte dos casos foi encontrada na zona leste da cidade composta por 29 bairros, e o mesmo fenômeno se repetiu em 2020 com aumento de duas vezes do número de casos em relação a 2015. “A região é caracterizada pela vulnerabilidade ambiental e socioeconômica, incluindo alta densidade populacional, um aterro sanitário próximo a área urbana [já desativado], fragmentos de mata às margens de um rio e seus afluentes e baixo nível de renda da população” relata.
Conforme o Dr. Euribel, a partir desses dados, nessa região, foram tomadas intensas ações pelo programa municipal de vigilância epidemiológica com foco nas intervenções de gestão ambiental. As ações incluíram controle do vetor (inseticida), controle de recipientes de armazenamento de água à prova de mosquitos, gerenciamento de resíduos sólidos, limpeza, eliminação de criadouros e ações de educação para mudança do comportamento humano.
“Em 2023 a cidade vive situação alarmante que parece piorar a cada nova semana com aumento vertiginoso no número de casos, com o registro da 18ª morte [até 27/04] por dengue. Está entre as três cidades com maior número de notificações do país [é a terceira, atrás de Londrina e Foz do Iguaçu, no Paraná] e já ultrapassou 13 mil casos [até 27/04]. Em relação aos lixões clandestinos, em 2015, foram identificados 56 pontos na área urbana da cidade, localizados principalmente na periferia e acessos secundários que ligam a áreas rurais, com aumento de 1,6 vezes em seu número em 2020 e 2021”, diz.
A análise multivariada mostrou uma associação clara entre a densidade de casos de dengue e os pontos de resíduos sólidos clandestinos com a maior gravidade em 2020. A identificação dessas áreas pode orientar os órgãos de saúde pública e autoridades em medidas de vigilância e melhorias nos cuidados de saúde e infraestrutura. “Um achado importante foi o fato de que em Prudente, a maior concentração de casos de dengue está situada em regiões com menor renda familiar, especialmente na periferia da cidade”, comenta.
O estudo foi desenvolvido em trabalho de conclusão de curso na Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (Famepp/Unoeste) por alunos orientados pelo Dr. Euribel: Alana Barbosa Souza, Gabriella Lima Belussi e Guilherme Henrique Dalaqua Grande, com participação da enfermeira da Vigilância Epidemiológica Municipal, Elaine Aparecida Maldonado Bertacco, do biólogo André Gonçalves Vieira, da Prefeitura, e do professor Dr. Edilson Ferreira Flores, do Departamento de Estatística da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus da Unesp em Prudente).
SERVIÇO
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista científica International Journal of Environmental Health Research, com fator de impacto de 4.614 (muito relevante na comunidade científica) e pode ser acessado no portal PubMed, com o seguinte título: Dengue outbreaks in a city with recent transmission in São Paulo state, Brazil.