O documentário "Garoto Interrompido", lançado nos Estados Unidos em 2008, narra a história real de um portador de transtorno bipolar depressivo que se suicida aos 15 anos. Por meio de entrevistas, fotos e vídeos caseiros, seus pais cineastas constroem um registro que busca acompanhar a breve vida do filho e investigar os motivos por trás da radical decisão de tirar a própria vida. O exemplo exposto na tela é o retrato de uma realidade comum que, contra todos os tabus em processo de desconstrução, continua sendo silenciada. Com o objetivo de discutir o assunto e conscientizar a sociedade sobre suas formas de prevenção, o CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) promovem, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo, vinculada ao dia de hoje, no qual é lembrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. O número de ocorrências é maior do que o total de mortes por homicídio e guerras. Segundo a psicóloga Alcione Candeloro Ricci, por trás do suicídio, sempre existe um problema psiquiátrico, às vezes não diagnosticado. "Ainda existe muito preconceito em relação aos transtornos psiquiátricos e quase nem sempre os pacientes procuram ajuda, ou procuram tardiamente", expõe. A profissional aponta que a depressão é o principal transtorno que põe a pessoa em risco de suicídio. Entre os sinais frequentes, estão a desmotivação, desânimo, falta de perspectivas futuras, tristeza sem causa aparente, isolamento social e familiar e reações exageradas que antes não ocorriam.
A psicóloga salienta que a melhor forma de evitar o problema é o diagnóstico precoce. "Este deve ser associado a uma educação que ajude a pessoa a se responsabilizar pelos seus atos e a ter a produção como fonte de prazer nas variadas formas e não apenas a satisfação imediata de desejos, o que é muito comum na atualidade", enfatiza.
Em relação aos familiares, Alcione afirma que o suicídio é de "uma crueldade enorme" para as pessoas que amavam a vítima. "Invariavelmente, a sensação é de que não tinham valor, pois se tivessem, a pessoa não iria pensar em abandoná-los com sua morte provocada", exprime. "Fala-se pouco da morte em geral. Mesmo sendo a única certeza que temos, a negamos cultuando excessivamente a vida e o prazer que ela pode nos trazer", pontua. "Com o suicídio, isso se agrava, pois reconhecer que alguém querido corre esse risco assusta demais", complementa. Portanto, segundo a profissional, a solução é falar mais sobre as consequências que o ato pode trazer para quem fica, além de promover uma sociedade com mais limites. "Aceitar o bom e o mau, inerentes à vida, poderia contribuir para a minimização do problema", expõe.
Como participar
A campanha Setembro Amarelo sugere algumas ações para fomentar a participação popular, como a iluminação de prédios públicos, mobilização de passeatas, distribuição de folhetos e o uso de camiseta ou fita amarela.
Agenda
Em Prudente, a APP (Associação Prudentina de Psiquiatria) promove o 11º Encontro de Atualização em Psiquiatria, que contará com atividades alusivas ao tema. No dia 24 de setembro, a partir das 11h, no auditório da Casa do Médico, o vice-presidente da ABP, Itiro Shirakawa, ministra a palestra "Suicídio: Informando para prevenir". Já no dia 25, a associação realiza a Caminhada pela Vida, programada para 9h. A sugestão é que a população se vista de amarelo para participar.
SINAIS DO PROBLEMA
Desmotivação
Desânimo
Falta de perspectivas futuras
Tristeza sem causa aparente
Isolamento social e familiar
Reações exageradas que antes não ocorriam
"Ainda existe muito preconceito em relação aos transtornos psiquiátricos e quase nem sempre os pacientes procuram ajuda"
Alcione Candeloro Ricci,
psicóloga