Dan Rosseto estreia nova  peça na capital nesta quinta

Dan Rosseto, ator, dramaturgo e diretor

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 14/02/2024
Horário 08:04
Foto: Pino Gomes

Uma entrevista com o ator, dramaturgo e diretor, Dan Rosseto, talento da região, que escreveu e dirige a comédia “Elas são de matar”, que tem no elenco Lidi Lisboa, Ângela Figueiredo, Andrea Santana, Miriam Palma e Wellington Gomes. Aos principiantes e aos já atuantes dos palcos do teatro, das TVs e cinemas, vale a pena ler do início ao fim, porque ele dá uma aula grátis de conhecimento, profissionalismo e humildade. “O reconhecimento pode te tornar uma pessoa necessária dentro do mercado. A fama te torna uma figura visada para os erros e acertos”, diz o diretor de “Elas são de matar”. A peça estreia nesta quinta-feira, dia 15, no Teatro Nair Belo, do Shopping Frei Caneca, em São Paulo (SP). Confira na íntegra a entrevista.

Do que se trata “Elas são de matar”?
A peça é uma comédia. Fomos contemplados com o Prêmio de Humor Prio 2023, do Fábio Porchat. Fomos um dos três projetos selecionados do Brasil. Ela conta a história de quatro amigas que se reúnem todas as sextas-feiras para jogar bingo. Elas trazem presentes que não querem mais, coisas de casa e jogam bingo, mas o pretexto é o encontro, a amizade e para falar do cotidiano. Nesse dia específico, a dona da casa conta para as amigas que acha que matou o amante. O enrolou no tapete e escondeu no banheiro. Elas começam um jogo de gato e rato para tentar se livrar do corpo... É uma comédia muito divertida, inspirada nas obras do Pedro Almodóvar, nas obras do Miguel Falabella, um texto ágil, de quatro mulheres e que fala muito, através de uma forma muito divertida, sobre o poder da amizade. Eu faria tudo por um amigo? Até onde eu iria para ajudar um amigo?

Quais as suas expectativas para a estreia?
As expectativas para estrear são as melhores, especialmente porque esse texto foi premiado e é uma obra que já nasce com um selo importante do prêmio do Fábio Porchat, que é um mestre de humor. Ele foi analisado por uma banca de humoristas e atores comediantes, então já começa uma expectativa prévia, antes mesmo da peça estrear. E eu estou trabalhando com um elenco muito especial de cinco atores, quatro mulheres e um rapaz que faz o amante. É um elenco muito diverso e a gente precisa rir. 

O que o riso pode proporcionar, Dan?
Eu acho que hoje o riso é um grande antídoto contra uma série de questões e é muito gostoso quando a gente ri junto. Então se eu vou ao teatro e dou risada de alguma coisa, eu quero que alguém esteja comigo para rir junto. A gente tem rido muito pouco, infelizmente, praticado o ato de rir espaçadamente, então eu acho que a minha expectativa é divertir o público e que as pessoas vejam e voltem com os amigos. Venham grupos de amigas e que esse espetáculo perdure, que fique anos em cartaz, mesmo sabendo da dificuldade que é manter um projeto de teatro de pé por muito tempo!

Como se deu a escolha do elenco?
O personagem do amante foi escolhido através de testes. Abrimos seleção para jovens atores, ficamos um dia inteiro vendo essas audições, primeiro teve currículo, vídeo e depois teste presencial. As atrizes, como há 20 anos comecei a dirigir teatro e não parei mais, eu conheço e trabalhei com muita gente, e algumas dessas atrizes a gente retorna em projetos. 

Um pouquinho sobre cada uma...
A Ângela Figueiredo já é o terceiro trabalho que fazemos e é sempre uma alegria tê-la em meu elenco porque ela é muito criativa, também é diretora além de atriz, então injeta ideias e provocações interessantes a respeito da relação das amigas. A Miriam Palma que é outra parceirona, também é autora, escreve humor. A Lidi Lisboa, que recentemente participou de uma edição de ‘A Fazenda”, é muito engraçada, tem um destaque para as redes sociais com um trabalho de humor divertidíssimo, fez muita coisa na Globo. A Andréa Santana é uma atriz que conheci há pouco. Gosto muito de trazer atores que nunca trabalhei. Então a escolha foi feita dessa forma, com muito cuidado, cautela, assim que o texto ficou pronto em 2021 eu fiz algumas leituras com outras atrizes, gosto de ler, de sentir, de ouvir a percepção do ator sobre a obra, então o elenco é complicado, porque a gente precisa acertar meio que sem ter certeza. Ainda mais em uma peça onde eu preciso que o público acredite que essas mulheres são quatro amigas.

A ideia é percorrer o Brasil com a montagem? Por onde deve passar? Existe a possibilidade de Presidente Prudente recebê-la?
A ideia, bom, a gente estreia dia 15 de fevereiro aqui no Teatro Nair Belo, do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, em curta temporada, e depois a gente ainda não tem muita perspectiva, mas claro que pretendemos viajar, percorrer outras capitais. E sim, Presidente Prudente sempre esteve no meu radar. Porque eu saí da cidade há 23 anos e voltei apenas para o lançamento de um livro. Mas nunca com um espetáculo. E acho isso imperdoável da minha parte, de não abrir uma brecha para insistir em levar um pouco do que eu tenho feito em São Paulo e no Brasil. E também, essa falta de contato com a política pública cultural da cidade, que precisa, não sei, haver uma conversa, um diálogo um pouco mais aberto com pessoas que acabaram saindo daí, tendo coragem de expandir seus horizontes e como eu e outros tantos colegas, criando história na capital de alguma forma...

Dan, vamos retomar um pouco de sua história? Você é natural de que cidade do interior paulista? 
Eu sou nascido em Dracena, durante muitos anos gerente do antigo Banco Mercantil, então a minha família vivia entre uma cidade e outra, e a gente foi pra Presidente Prudente. Mas, praticamente, toda a minha família mora em Pirapozinho. Eu fiz faculdade na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) me formei em Comunicação Social, fiz teatro com o José Fábio Sousa Nougueira na Companhia da Unoeste, onde aprendi a base do que sei de teatro. Vim para São Paulo e, enfim, hoje atuo em diversos segmentos culturais, dou aula pra atores, sou casado hoje, tenho dois filhos, já na pré-adolescência. 

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Dan é de Dracena, morou em Prudente e sua família mora em Pirapozinho

Por que tem tanta vontade de apresentar uma peça sua em Prudente? 
Vai fazer 20 anos que eu dirijo teatro, daqui a pouco 30 que eu atuo. Estou escrevendo roteiro agora, depois da Globoplay, já estou com outra sala de roteiro, roteiro de longa metragem, adaptação de livro para teatro, abriu-se uma porta imensa no audiovisual e já existia na dramaturgia. Em 2024 faz dez anos que lancei minha primeira peça de teatro profissional, tenho mais de 19 textos escritos. Então eu gostaria muito de dividir, somar com os artistas prudentinos. E injetar também. Nossa eu saí daí, o que aconteceu comigo esse tempo, que caminho que eu posso abrir pra outra geração atrás da minha. Então nesse sentido eu acho que não é levar uma peça para o teatro, eu acho isso pouco, meu interesse era poder ser um canal e fazer essa ponte entre artistas regionais do interior, como na região de Prudente, com o que acontece na capital.

“NÃO É LEVAR UMA PEÇA PARA O TEATRO, EU ACHO ISSO POUCO, MEU INTERESSE ERA PODER SER UM CANAL E FAZER ESSA PONTE ENTRE ARTISTAS REGIONAIS DO INTERIOR, COMO NA REGIÃO DE PRUDENTE, COM O QUE ACONTECE NA CAPITAL”

Quando se tornou ator? 
Eu comecei como ator, que acho que é a porta de entrada de todo mundo nesse meio. Ninguém já inicia como diretor. Tem um caminho pra você chegar até lá. Eu acho que todo bom diretor, todo bom dramaturgo, roteirista, precisa se colocar na condição de ator pra entender um pouco sobre o que ele vai contar, como vai contar, qual o olhar dele sobre o trabalho do outro. Eu fiz teatro em Prudente, fiz grandes obras na cidade. Em São Paulo também trabalho como ator, agora menos, por conta do tempo. 

Destaque alguns personagens que viveu...
Fiz grandes personagens! Já fiz peças do Ibsen, do Guarnieri, do Plínio Marcos, de teatro mais contemporâneo, fiz Lorca, dirigi tanta coisa, tanta gente, tenho trabalhado com artistas incríveis! Nossa, se eu for listar vou até me perder. Agora estou em cartaz, até o dia 3 de março, no Tucarena com um espetáculo chamado “Nosso Irmão”, do qual sou diretor. É um espetáculo de um texto de um espanhol com a Regiane Alves, Bruno Ferian, Marina Elias. Um espetáculo lindo que estreamos em novembro, renovou temporada até março e já viajamos com ele. Tem já uma agenda em Fortaleza (CE), outras cidades confirmadas. Então eu não saberia escolher um personagem porque eu vou desde o teatro pequeno, pocket, com menos recursos, até um teatro grande, musical, drama, comédia, tragédia, solo. 

Tem preferência, entre atuar e dirigir?
A primeira coisa que eu penso é, será que eu sei contar essa história? Então a primeira coisa que eu faço é uma análise, como eu vou contar essa história? O que eu tenho a dizer sobre isso? É a primeira luz que tem que acender. Nesse sentido, eu não tenho uma preferência nem pelos personagens que eu atuei no teatro, no cinema, na TV, nem pelos que eu escrevi no teatro, no cinema, na TV, eu dirigi. 

Por quê?
Dan: Porque pra mim é sempre um caminho de um processo. Tem uma frase que acho incrível de um filme que vi recentemente, que gosto muito, que diz mais ou menos assim: “A ficção serve pra gente ir apagando os erros da realidade”. Então eu acho que acredito que o meu trabalho como artista é um pouco esse lugar de investigar como anda a realidade e, através da ficção, ir dando uma finalizada, fechando ciclos e entendendo um pouco o momento em que a gente está e por que o ser humano age de determinada maneira.

E como diretor? Como surgiu a oportunidade? 
Eu comecei a dirigir em 2005. Trabalhava com preparação de elenco e quando fui preparar um para o teatro me chamaram para assumir a direção. Tudo na minha vida foi um pouco assim. Aconteceu isso quando fui escrever o roteiro da série do Chitãozinho e Xororó. Eu estava no teatro trabalhando, o diretor da série foi assistir a peça, gostou do meu trabalho como autor e a gente começou a conversar. Então eu sempre consegui trabalho trabalhando. Sempre oriento isso aos meus amigos, por isso que não tenho um personagem ou espetáculo preferido. Se é trabalho pequeno, grande, com muita ou pouca estrutura, para mim é trabalho. Quando eu decido fazer, eu faço. Então como diretor, me interessa esse conjunto da obra. É onde vou trabalhar não só a encenação, mas a ideia criativa, a estética, a concepção junto com o figurinista, iluminador, o cenógrafo, de que forma eu vou contar aquilo, o que eu quero causar no público. 

O que mais te agrada na direção?
Como eu dirijo os meus atores, nos últimos cinco anos tenho me dedicado muito a isso. Lá atrás, quando comecei a dirigir sendo preparador de elenco, talvez eu tenha levado esse tempo inteiro, nesses últimos 14, 15 anos entendendo um pouco o mecanismo de chegar nos atores dentro de uma sala de ensaio, como consigo atingi-los, de que forma consigo dialogar diante de tantos métodos diferentes... Então acho que gosto de ser diretor não pelo resultado final, o que me agrada muito ver um espetáculo indo bem, mas justamente pelo processo, porque eu sempre acho que o processo em si, ele é muito mais intenso e importante do que o objeto criado no final dele.

O que a arte tem de Dan Rosseto como dramaturgo e escritor?
Eu acho que tudo, porque acaba que o que está no meu radar eu utilizo para poder aplicar nos meus personagens. Ando com um bloco de notas, no meu celular tem bloco de notas, se eu estou dentro de um cinema e ouço alguma coisa que me inspira já escrevo ali no cantinho e passo a limpo. Tenho um mural em casa, post-it. A gente abre um universo criativo onde precisamos ser fiéis a ele. A gente, quando escreve, precisa ter coragem e responsabilidade. São duas coisas muito importantes. Coragem para poder estudar, dar tempo, mergulhar. A gente se enche de referência o tempo inteiro para poder exprimir aquilo e tudo aquilo vira uma frase. É muita coragem e precisamos ter disciplina e responsabilidade para tomar cuidado com o que a gente diz, da forma que diz. Imagina que quando você escreve tem o poder. Claro que a ficção acaba tendo outras funções, que não o jornalismo, que você acaba podendo mudar a vida de alguém. 

"O RECONHECIMENTO PODE TE TORNAR UMA PESSOA NECESSÁRIA DENTRO DO MERCADO. A FAMA TE TORNA UMA FIGURA VISADA PARA OS ERROS E ACERTOS. E NO MUNDO EM QUE A GENTE VIVE HOJE, DE REDES SOCIAIS, MUITO MAIS PARA OS ERROS"

E que diferença é essa? 
Na ficção, a responsabilidade é que você também pode mudar a vida de alguém se usar a tua obra no momento, na hora certa para atingir o público e não simplesmente para você ser, contestador apenas. E sem contar que existe uma técnica, e cada vez mais temos a apurado, estudado, e a dramaturgia, o audiovisual, o roteiro, eles têm evoluído. O tempo inteiro a gente precisa estar nessa evolução constante para que esteja inserido no mercado. A escrita exige fidelidade e constância. É uma relação que se eu não tenho respeito a ela e lealdade ela vai embora, ela me abandona e vai procurar outra pessoa para viver do lado.

Em várias entrevistas você sempre enfatiza que desejou reconhecimento e não fama. Explique a diferença para você entre ambas as coisas, por favor?
Olha, continuo achando isso, cada vez mais, porque eu posso ter fama fazendo coisa errada, eu posso ser alguém do dia pra noite fazendo algo que não é legal. Acredito que o reconhecimento e o respeito têm a ver com a trajetória, com a construção, o trabalho diário. A fama, geralmente, é repentina. A fama pela fama é efêmera. Penso que o respeito e o reconhecimento podem te tornar famoso, conhecido, que não é uma palavra que eu gosto, fama, porque para mim soa oportunista. O reconhecimento pode te tornar uma pessoa necessária dentro do mercado. A fama te torna uma figura visada para os erros e acertos. E no mundo em que a gente vive hoje, de redes sociais, muito mais para os erros. As pessoas te amam, mas também te odeiam numa velocidade muito rápida. Respeito e reconhecimento fazem com que você se torne um pilar necessário dentro de um lugar, de um ambiente de roteiro, de dramaturgia, de direção. 

Então podemos atribuir seu sucesso nestas duas qualidades?
Sempre achei isso, que o reconhecimento e o respeito que eu tenho com a minha profissão é o que quero que tenham comigo. E isso faz com que me chamem pra trabalhar, com que eu trabalhe, porque eu nunca estou à frente do que faço, não sou mais importante do que o meu trabalho, do que as minhas obras. Não, eu sou a figura que está por trás fazendo tudo isso funcionar e existir. Não sou eu, apesar de ter sido feito por mim, é um todo.

Erika Almeida

“Elas são de matar”: um texto ágil, de 4 mulheres, que fala de uma forma divertida, sobre o poder da amizade
 

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