Criança fantasia ou mente?

Papai Educa

COLUNA - Papai Educa

Data 07/05/2017
Horário 19:46

Era início do ano letivo de 2016. O bilhete no caderno escolar convocando a mãe para ir à escola denotava que algo poderia não estar bem com o pequeno de 3 anos. Na impossibilidade da figura materna seguir à unidade escolar, fui eu, o pai. Na sala, com a professora, a portas fechadas, um relatório entregue em minhas mãos descrevia que meu filho estava mais agressivo que o comum, queria brincar de “lutinha” com os colegas e chegou a bater em uma amiguinha na sala de aula. Quando questionado e repreendido, ele disse à educadora que agiu assim porque o papai batia na mamãe. Ah, meu mundo caiu.

Me senti o “cara da raquete”, o personagem Marcos, de Dan Stulbach, que agredia Raquel (Helena Ranaldi), na novela “Mulheres Apaixonadas”, com o instrumento de tênis. E se, “criança não mente”, como provar que ele jamais tinha presenciado qualquer cena de agressão doméstica, seja física ou psicológica? Era a minha palavra contra a dele. Contestei, voltei para casa, chorei, tentei entender aquele atropelo emocional.

Com o auxílio da mamãe, conversamos muito com o pequeno, questionamos, esclarecemos os riscos. Com o passar dos dias, compreendi a importância da escola na vida do meu filho, o quanto esta atenção é primordial para sua saúde física e emocional. Com o botão start apertado, busquei olhar com mais cautela para fatores que pudessem aflorar esta fantasia no pequeno.

Na tela do celular, em um vídeo no Youtube, mesmo com controle parental ativo, o super-herói favorito da Marvel Comics, Spiderman, iniciava uma de suas cenas típicas, lançando teia pelos prédios, e ao se deparar com Elsa, de Frozen (famosa animação da Disney), travava uma batalha corporal. Na sequência dos vídeos, estes ídolos de gerações lutavam entre si de forma violenta. Na TV, mesmo nos desenhos infantis, as cenas de luta eram uma constante. E que menino não tem nas veias esta pujança pelos filmes de ação?

E por mais que tivéssemos toda cautela para que ele assistisse programações voltadas a sua faixa etária, houve descuido. E num instante de vacilo, eles mergulham na fantasia, entre o real e o imaginário. A partir de então, percebemos sua capacidade incrível de criar situações, personagens... E de lá para cá, são muitas histórias...

A linha que separa a fantasia da realidade pode ser muito tênue para a criança. Orientá-la é primordial para que navegue com segurança por ambos os mundos. Conhecer a diferença entre as fábulas e mentiras e reconhecê-las nos pequenos permitirá aos pais o trabalho educativo para que a criatividade imaginária seja explorada de forma positiva e a declaração falsa coibida, já que ela traz consequências que podem ser prejudiciais à criança e a outras pessoas envolvidas.

Quem não se lembra do famoso caso da Escola Base? Ele é ainda explorado nas faculdades de Jornalismo, na qual proprietários, uma professora e seu marido foram acusados injustamente de abuso sexual infantil e a ocorrência foi assustadoramente explorada pela mídia, com deficiências de apuração e propagação de suposições e inverdades. A unidade escolar fechou as portas e os reflexos causados na vida humana foram irreversíveis.

Toda cautela é pouca! Não minta para uma criança, mesmo que seja uma “mentirinha boba”. Ela tende a reproduzir o exemplo de casa e terá dificuldades de discernir o que pode e não fazer. Ter consciência de que os pequenos alteram a realidade com suas fantasias e ensiná-los a valorizar a verdade, ajudará na formação de seu caráter e conduta moral. Quanto às boas fantasias, aproveite para explorá-las, brincar, criar personagens, ler muitos livros e encenar os retratos da literatura e da vida real... Sem fórmula pronta, seguimos na arte de educar para transformar.

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