Em Presidente Prudente, o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) atendeu, neste ano, 250 mulheres que sofreram algum tipo de violência, seja ela física, psicológica, patrimonial, moral, entre outras. Embora a DDM (Delegacia da Mulher) calcule uma redução de 60 casos na comparação com o mesmo período do ano passado, a coordenadora do Serviço de Atendimento à Mulher do Creas, Simone Duran Toledo Martinez, não atribui a queda à diminuição de ocorrências, mas ao fato de muitas mulheres não terem aberto um boletim de ocorrência.
Os números foram apresentados durante o 9º Fórum Municipal de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, realizado na manhã de ontem, no Centro Cultural Matarazzo. O evento é organizado anualmente pela Rede Mulher Prudente, que compreende Creas e SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), além de instituições e órgãos parceiros voltados à proteção e saúde desse público.
De acordo com Simone, o foco desta edição foi a identidade de gênero, uma vez que o tema ainda é cercado por preconceito, desconhecimento e ignorância, além de ser comumente associado à depravação ou incentivo à homossexualidade. “Falar de gênero é discutir respeito, diversidade, acesso a direitos, inclusão e mudança”, considera. Segundo ela, a violência ocorre quando aqueles padrões de comportamento atribuídos ao homem e à mulher são descumpridos, isto é, quando a mulher não aceita ser submetida à subserviência e o homem não quer assumir o papel machista que lhe é imposto.
Simone conta que agressões contra mulheres transgêneros aumentam diariamente em todo o país, sendo o Brasil o país mais violento para a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Em razão disso, afirma que Prudente vem se organizando para enfrentar esse problema por meio de eventos e criação de coletivos. “Mas isso não é suficiente, pois uma parcela da sociedade ainda permanece no pensamento conservador, colocando a heterossexualidade como norma para todo mundo”, argumenta.
O fórum foi composto por uma abordagem teórica sobre identidade de gênero e, em seguida, uma mesa redonda a respeito da discriminação e o preconceito como formas de violência. Para Simone, é preciso que o tema faça parte das discussões dentro das escolas, dos lares e dos demais espaços públicos e sem o envolvimento da religião, tendo em vista que o Estado é laico. “Recentemente, a Câmara de Prudente aprovou uma moção de repúdio contra uma política do MEC [Ministério da Cultura] que propunha a discussão da questão de gênero nas escolas. Eu não entendo tal medida de uma casa que deveria apoiar a informação para combater a violência”, salienta.
“Se estiver insegura, a recomendação é que chame alguém para que vá com ela até a delegacia e com quem converse sobre o assunto, de modo que se sinta menos sozinha”
Simone Duran Toledo Martinez,
coordenadora do Creas
Fim do silêncio
Em âmbito geral, a coordenadora aponta que medo, insegurança e dependência material e emocional ainda são as principais condições que impedem a mulher de denunciar uma situação de violência. Desta forma, orienta que, mesmo com receio, a vítima procure a DDM e protocole o boletim de ocorrência, considerando que o documento é o fator de proteção para ela. “Se estiver insegura, a recomendação é que chame alguém para que vá com ela até a delegacia e com quem converse sobre o assunto, de modo que se sinta menos sozinha”, pondera.
Simone explica que, a partir da denúncia, a vítima pode solicitar medida protetiva de afastamento, além de ser encaminhada para os cuidados de uma equipe especializada do Creas, que acompanha a sua situação até que ela supere a situação de violência. “O silêncio é um dos maiores agravantes da violência, por isso, as campanhas de conscientização e encorajamento são tão necessárias”, pontua.