Em depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, o ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que deixou o cargo porque não tinha a autonomia que considerava necessária e que essa situação ficou mais evidente com as divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a respeito da hidroxicloroquina.
"[Deixei o cargo] após constatação de que não teria a autonomia e liderança que imaginava indispensáveis para o exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19", afirmou o ex-ministro.
Teich disse que sua resistência a ampliar o protocolo para o uso da hidroxicloroquina - medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid-19 - era baseada em suas convicções pessoais e baseadas em estudos.
"Existia um entendimento diferente por parte do presidente que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina, que naquele momento autorizou a extensão do uso, e foi isso aí que motivou a minha saída", afirmou.
"Sem a liberdade para conduzir o ministério conforme as minhas convicções, optei por deixar o cargo", completou.
O depoimento do ex-ministro da Saúde na CPI da Covid começou às 10h22 de quarta-feira. É o segundo da série com ex-titulares da pasta para esclarecer as ações e omissões no enfrentamento da pandemia. No dia anterior, foi ouvido o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
Teich ficou menos de um mês no cargo. Ao contrário de Mandetta, ele evitou críticas mais contundentes a Bolsonaro após deixar o governo.
O depoimento seguinte no cronograma da CPI seria o ex-ministro Eduardo Pazuello, mas a participação acabou remarcada para o dia 19, após o general ter alegado que teve contato com subordinados infectados pelo coronavírus.
Na quinta-feira, estão programados os depoimentos do atual ministro, Marcelo Queiroga, e do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres.