Covid-19: Antes, durante e depois da UTI

Médicos que lidam diretamente com pacientes com a doença descrevem o momento em que estes são levados para a terapia intensiva e a luta pela vida que por lá acontece

Cedida: Área interna da UTI do Iamada com dez leitos.
Cedida: Área interna da UTI do Iamada com dez leitos.

Apenas 5% dos pacientes com Covid-19 desenvolvem a forma mais crítica da doença, afirma o médico intensivista e coordenador da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Iamada, Marcelo do Valle, 49 anos. O número, aparentemente pequeno, torna-se muito relevante quando calculado à luz da enorme quantidade de infectados: no Brasil, mais de 3 milhões de pessoas, e na região de Presidente Prudente, quase 7 mil.  

A rotina de uma UTI com pacientes Covid, conforme o relato de Marcelo, é desgastante. Lá, todos os profissionais, entre médicos e enfermeiros, trabalham sob constante pressão, visto que os pacientes que evoluem para quadros críticos da doença causada pelo novo coronavírus são, nas palavras do intensivista, “muito graves, com tratamento complicado e longo”. Além disso, os profissionais convivem diariamente com o risco de contágio.

Antes: evolução preocupante 

Questionado sobre o que leva um infectado pelo coronavírus para UTI, o infectologista Alexandre Portelinha, que acompanha pacientes com a doença em diversos hospitais de Prudente, incluindo o Iamada, respondeu: “Em alguns pacientes, a Covid-19 evolui com inflamação progressiva do pulmão, que resulta em dificuldade de trocas dos gases, o oxigênio e gás carbônico, se isso não for corrigido em tempo correto o paciente evolui com falência orgânica. Em algumas situações só conseguimos corrigir na UTI, setor com estrutura adequada para esta situação e com presença de médico e enfermagem 24 horas”.

A reação dos pacientes frente ao temor da evolução preocupante do quadro clínico, segundo Portelinha, ocorre. Quando são comunicados de que serão transferidos para a UTI ficam amedrontados, comenta o médico. “Porém, explico que é naquele setor que ele terá maior segurança de que seu tratamento terá melhor resultado, ou seja, ser transferido para UTI não é sinal de que dela não sairá, ao contrário, a UTI é onde estão suas melhores chances de recuperação”, conclui Portelinha.

Durante: luta de médicos e pacientes

O intensivista Marcelo do Valle, ressalta que não há nenhuma droga comprovadamente eficaz para a cura da Covid-19. “O que tira o paciente da UTI é a terapia intensiva de qualidade”, enfatiza. Para exemplificar, ele cita números médios de mortalidade de pessoas internadas em terapia intensiva: varia de 26% a 70%, a depender do preparo do corpo clínico e disponibilidade de recursos para o tratamento – neste caso, os piores números estão intimamente relacionados a hospitais de regiões periféricas de grandes centros urbanos que sofrem a falta de aporte público. Na UTI do Iamada, os números são positivos: 84,4% dos pacientes se recuperaram. “Isto nos enche de orgulho”, garante o médico.

A permanência média de um paciente infectado pelo vírus na UTI está entre 10 e 14 dias, fala Portelinha. Em pouco tempo, com avanço rápido da doença, os leitos de UTI de todo o país, inclusive da região de Prudente, se viram lotados, como nunca antes. “Como no Brasil, a pandemia demorou mais para chegar, tivemos tempo para aprender com os erros dos outros países. Aqui no Iamada [que possui 10 leitos de terapia intensiva], a preparação começou bem antes de a pandemia chegar ao Brasil”, afirma Marcelo.

A pressão é grande, mas o preparo e treinamento adequados são imprescindíveis para minimizá-la. Todos os profissionais de saúde, dentro da UTI, utilizam paramentação completa: capuz, máscaras, luvas, protetor facial, capote hidrofóbico e outros. Apesar do desconforto ao falar, respirar e machucados no rosto, tais equipamentos reduzem muito a possibilidade de contaminação desses profissionais.

Marcelo completa dizendo que nos últimos meses, como coordenador da UTI, sua rotina foi muito desgastante: “Tenho que montar protocolos, gerenciar equipe médica, de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, técnicos de enfermagem, me preocupar em reestabelecer o paciente e devolvê-lo para o seio da família”. É pela vitória dos lutadores que superam a Covid-19, que Marcelo ganha forças para continuar o trabalho. Leia o “Depois” da UTI na próxima matéria.

“Ser transferido para UTI não é sinal de que dela não sairá, ao contrário, a UTI é onde estão suas melhores chances de recuperação”
Alexandre Portelinha

 

Fotos - Cedidas


Marcelo do Valle e enfermeiros realizam simulação e treinamento na UTI do Iamada

 


Equipe da terapia intensiva coloca paciente em posição prona, de barriga para baixo


Desta porta saem mais de 80% dos infectados pelo novo coronavírus recuperados

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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