Convocação

António Montenegro Fiúza

«Mas um velho, de aspecto venerando,
que ficava nas praias, entre a gente,
postos em nós os olhos, meneando
três vezes a cabeça, descontente,
a voz pesada um pouco alevantando,
que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
tais palavras tirou do experto peito: 
(…)
Dura inquietação da alma e da vida
fonte de desamparos e adultérios,
sagaz consumidora conhecida
de fazendas, de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
sendo digna de infames vitupérios;
chamam-te Fama e Glória Soberana,
nomes com quem se o povo néscio engana!» 

Quando convocados para partir, os mais destemidos e audaciosos alçaram-se logo, a si mesmos e às suas vozes e bradaram alegres, rimbonbando em energia; a seguir, os desesperançados, não tão corajososos ou determinados, mas presentes, motivados pelos primeiros... sem outras oportunidades, fugindo de males maiores, a quem interessa a circunstância que os impulsionara ou incitara, quando deixaram de ser assistência e passaram a ser atores num palco mundial. 

Tal momento, aconteceu há  mais de quinhentos anos, mas hoje mesmo eis que a nau a nós todos chama, convoca-nos para mais uma partida, nesta viagem longa e incerta. Por que mares navegaremos, que terras alcançaremos, que pessoas novas conheceremos... que importa, avancemos. No mar de incertidão que é este ano novo, embarquemos – presto! presto! 

Sacudamos a poeira da letargia, do comodismo e da indiferença, agarremos as armas mais próximas de nós: as nossas mãos, os nossos pés, a nossa voz e a nossa força de vontade.
Imbuamo-nos da coragem destemida – nunca temerária, da que quer mudar o mundo, revolucionando-o numa evolução gradual e da qual todos façam parte. 

Lutemos pela igualdade entre irmãos, pela preservação do nosso ambiente, pelo planeta que deixaremos às gerações vindouras; por melhores condições de vida; por um melhor eu. Rompamos o véu da reclamação, do maldizer e da negatividade. Paremos de destruir, com as nossas palavras e comecemos, dia após dia, a mudar efetiva e assertivamente o mundo.

Quer comece no primeiro dia do ano, no décimo sexto ou no quinquagésimo; numa segunda-feira (sorrisos) ou numa quinta-feira nublada; o importante é começar. Se se cansar, pare! Retempere as forças e continue a caminhada.

A mudança que queremos no mundo, devemos ser nós a fazê-la, disse o homem sábio.
 

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