Após dezenas e mais dezenas de denúncias de irregularidades, o Conselho Municipal de Saúde de Presidente Prudente realizou vistoria, hoje e ontem, na UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Conjunto Habitacional Ana Jacinta, onde as reclamações foram constatadas, desde excesso de pessoas à espera de atendimento por horas, pacientes internados, além da falta de insumos básicos, como soro fisiológico, algodão, esparadrapo, e escassez de funcionários.
“Precisei de atendimento na UPA, porque há cinco dias estava com diarreia, vômito, dor abdominal e de cabeça. Tive sorte, porque cheguei às 16h e fui atendido às 21h30. Tinha gente lá que chegou meio-dia e ainda não havia sido atendida. Pedi um soro para a médica e ela lamentando disse que infelizmente estava em falta de jelco [cateter intravenoso]. Aonde já se viu isso?”, expõe um paciente que preferiu não se identificar.
Segundo o presidente do conselho, Valdinei Vanderley da Silva, infelizmente, pessoas, inclusive, de grave complexidade e que necessitam de determinada especialidade, estão sendo acolhidas na unidade, mas o local não tem suporte para isso. Não tem centro cirúrgico, uma série de ferramentas que um hospital possui.
“Morreu mais uma pessoa, hoje. E vai morrer mais gente se o Estado não tomar uma providência. Porque UPA não foi feita para internações e sim para o paciente chegar, ser atendido e ir embora”, pontua Valdinei.
A Secretaria de Estado da Saúde expõe que “mantém diálogo” com gestores de saúde de todas as regiões, inclusive de Presidente Prudente, além de apoiar no fortalecimento e ampliação da assistência necessária à população. “Vale lembrar que, com a chegada do outono, o aumento dos sintomas gripais acarreta em doenças sazonais”.
Ainda segundo a pasta, a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde é um serviço intermediário, que monitora pacientes de todos os 645 municípios, com a finalidade de auxiliar na transferência entre os serviços de origem e de referência. “O papel da Cross, que funciona 24 horas por dia, não é criar leitos, mas auxiliar na identificação de uma vaga no hospital mais próximo e apto a cuidar do caso”.
“A transferência de um paciente não depende exclusivamente de disponibilidade de vagas, mas também de quadro clínico estável - livre de infecções, que permita o deslocamento a outro serviço de saúde para sua própria segurança”. “Vale ressaltar que é responsabilidade do serviço de origem manter o paciente assistido e estável previamente e providenciar transporte adequado para deslocamento seguro”. O Estado acrescenta que a demanda de transferências é descentralizada na rede, uma vez que há regulações municipais ou regionais, com os respectivos serviços de referência para sua área de abrangência.
De acordo com Valdinei, é muita gente aguardando o Sistema Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde). Na quarta-feira tinha 22 pessoas em observação e 22 esperando transferência. “Agora, eu pergunto, os hospitais estão sempre lotados a ponto de pacientes esperarem dias por uma vaga? Eu não acredito, até porque não fiscalizo hospitais. Somos um órgão municipal. Quando o município erra, vamos atrás do prefeito e cobramos. Agora nesse caso, compete ao Estado essa averiguação”, acentua o presidente do conselho.
Valdinei enfatiza que não é de hoje que problemas dessa natureza ocorrem. “Tenho 14 anos de conselho e o Estado sempre foi omisso nas suas responsabilidades. O Estado fechou o pronto-socorro do HR [Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo] e as UPAs ficam como? Com pronto-socorro, hospital, urgência e emergência. Isso é um absurdo”, frisa.
O presidente menciona que estão estudando a melhor maneira de buscar soluções para este problema. “Vamos tentar marcar uma audiência pública, ou uma ‘conversa’ com o Ministério Público para ver se o Estado se posiciona favoravelmente às pessoas que estão ficando ainda mais doentes, morrendo... Porque apenas o Estado pode resolver isso. É duro se sentir de mãos atadas. Uma providência precisa ser tomada”, acrescenta.
O Ciop (Consórcio Intermunicipal do Oeste Paulista) confirma, por meio de nota de sua Assessoria de Imprensa, que a demora em liberar leitos nos hospitais da cidade e região pelo Cross é o que vem causando o abarrotamento de pacientes nas UPAs. Se não é convênio, vai tudo para a UPA, seja de Prudente ou da região toda. A demanda é muito grande.
“Toda regulação de vagas é feita pelo Governo do Estado. Hoje [ontem] a unidade do Ana Jacinta conta com oito pacientes internados, enquanto a UPA do Jardim Guanabara possui 15 casos de internação”, diz a nota, com uma complementação da assessoria de que a UPA é porta aberta, atende todo mundo. Covid, dengue, acidente, parto, infarto, queimadura, fratura, crianças, adolescentes, jovens, idosos, enfim se é ser humano vai ser atendido. “E se o paciente entra e tem a necessidade de ficar internado, a UPA acolhe e envia seu cadastro para o Sistema Cross distribuir a vaga para um hospital”.
Segundo o consórcio, os sintomas gripais, Covid-19 e dengue têm deixado o fluxo de pacientes elevado nos últimos dias, o que pode acarretar, em alguns momentos, maior tempo no atendimento. “O Ciop e a Prefeitura de Prudente buscam incessantemente alternativas para minimizar os efeitos decorrentes desta demora na abertura de leitos de internação. Verificaremos junto à Secretaria de Saúde de Prudente sobre os levantamentos feitos pelo Conselho Municipal de Saúde e posicionaremos, por meio da imprensa, assim que tivermos um desfecho para o caso”, garante o consórcio.
Por meio da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), a Prefeitura de Presidente Prudente informa que o gerenciamento das UPAs compete ao Ciop, no entanto, busca articular junto ao Estado para garantir mais agilidade na transferência de pacientes a hospitais por meio do Sistema Cross.
A pasta de Saúde municipal acompanha de perto o cenário atual das UPAs e busca, dentro de suas condições, incrementar a estrutura de atendimento do local. Há algumas semanas, entregou um equipamento de raio-X portátil e reformou a sala, com investimento na casa de R$ 500 mil. A Prefeitura ainda informa que todos os insumos necessários para o dia a dia da unidade estão sendo fornecidos pelo município.