Domingo, 27 de setembro de 2020. Logo pela manhã, o empresário Jaime Gomes Chaves, a esposa Maria Angélica e o casal de amigos, Lucilene e Aroldo, deixaram Presidente Prudente para curtirem um momento de lazer em uma estância em Sertaneja (PR), região metropolitana de Londrina (PR). O grupo viajou com um monomotor prefixo PP-ZJJ, de propriedade do empresário, que também é piloto. O que eles não esperavam, era que a curta viagem se transformaria em minutos de pesadelo.
Conforme noticiado por este diário, naquela tarde a aeronave precisou fazer um pouso forçado no AeroPark de Regente Feijó, após colidir contra dois urubus. Graças ao heroísmo do comandante, as quatro vidas foram salvas.
“O voo estava bem sossegado, tranquilo, bem calmo. Quando de-repente as aves apareceram na frente e bateram contra o para-brisa”, lembra Jaime, piloto há 11 anos.
Devido à batida, uma das aves quebrou o vidro da cabine e acertou a cabeça, braço e peito do piloto, que teve a visão prejudicada devido ao sangue.
“Tem um ensinamento que diz: primeiro voar a aeronave, depois ver o procedimento que irá fazer; mas o procedimento eu não consegui porque não enxergava. Então, pensei: pouse em frente”, explica.
Minutos depois, ao seguir o comando, o piloto retomou o avião para cima quando percebeu que iria pousar sobre árvores.
“Limpei o GPS que estava cheio de sangue e vi que estava próximo da pista. Foi então que pedi ajuda ao outro comandante [Aroldo] para que me mostrasse aonde deveria pousar”, conta. Com o fone quebrado, prestou atenção no gesto feito pelo amigo.
“Quando olhei já estava em cima da pista, mas tinha passado do eixo”, lembra.
Diante disso, fez uma manobra e conseguiu parar no meio dela, com segurança.
“Passei uma emoção muito grande ao ver o sofrimento, mas fiz de tudo para colocar a aeronave no chão” afirma o piloto. “Lembro de um vídeo onde fala que para ser um bom comandante, é preciso primeiramente ser um comandante também dentro de casa, com os amigos, para que em um caso desse, conseguir ter força para lidar com o momento”.
Cedida - Piloto ainda limpou o GPS para tentar se localizar
Toda a situação ocorreu em aproximadamente 7 minutos. Antes do desfecho, o filho de Jaime e Maria Angélica também passou por desespero. Enquanto o pai tentava pousar o monomotor, recebeu a ligação da mãe que pedia por socorro.
A reportagem teve acesso com exclusividade ao áudio gravado de dentro da cabine.
Na gravação, é possível ouvir os gritos de duas passageiras.
“O pai está sangrando muito. A gente vai morrer! Salva nós, Senhor”; “Eu te amo, meu Jesus! Eu te amo, meu Jesus”.
Jader Gomes Chaves, que também é piloto, conta o que sentiu ao ouvir a ligação. “Como sempre faço os planos de voo com meu pai, eu sabia que já estavam para chegar, e quando atendi o telefone entrei em desespero”, relata.
“Para mim o avião tinha caído, não consegui entender que estavam voando”. A primeira chamada não durou muito e caiu. Jader ainda tentou retornar, mas não teve sucesso.
Em outra ligação soube que estavam em Regente. Então, ele e a esposa foram direto ao aeroclube. “Não sabia o que iria encontrar quando chegasse lá, mas quando vi meu pai foi uma sensação de alívio”, afirma. O casal chegou antes mesmo do resgate, e levou Maria Angélica e Jaime à Santa Casa de Presidente Prudente. Já os outros passageiros foram socorridos ao Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo.
Das vítimas do incidente, apenas o piloto ficou ferido. Foi necessário suturação com 12 pontos na cabeça.
Ao lembrar do incidente, o filho não contem as lágrimas.
“Somos todos muito unidos, é difícil falar [pausa]. O bem maior que temos é a família, é preciso erguer um pouco mais a mão para o céu a agradecer, aproveitar cada momento com eles, porque nossa vida é uma fração de segundos”, lamenta.
Fotos: Roberto Kawasaki
Jader recebeu uma ligação da mãe durante o incidente
Foto: Arquivo pessoal
Piloto lembra da importância em ser “comandante” em casa