A pandemia do novo coronavírus fez com que muitas mulheres temessem uma gestação neste momento e postergassem o plano de se tornarem mães para quando o cenário estiver mais estável. O Ministério da Saúde chegou, inclusive, a orientar que as famílias adiem a gravidez por enquanto, já que a gestação é uma condição que favorece a formação de coágulos no sangue e essa complicação pode tornar a Covid-19 ainda mais perigosa neste momento. Para quem se preocupa com a duração da pandemia, uma ótima possibilidade é o congelamento de óvulos. O ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana e assistida na Centro de Medicina Reprodutiva Fert-Embryo, Wilson Jaccoud, confirma que neste período o número de mulheres interessadas em reprodução humana cresceu em uma média de 5%.
“Podemos destacar como principal motivo a dificuldade de gravidez [infertilidade]. Mas a preservação da fertilidade está sendo, sim, um dos principais motivos pelo casal procurar o procedimento nas atuais circunstâncias. Principalmente, em relação ao congelamento de embriões, visando a sua transferência após o casal ser vacinado”, explica.
Já o especialista em reprodução humana assistida no Reproduction - Centro de Reprodução Humana Assistida, realizando fertilização in vitro em Prudente há 12 anos, Oilton Liberati Vieira diz que a procura se manteve estável. “Não aumentou nem diminuiu. Quanto ao motivo pela procura, mulheres em idade avançada e com baixa reserva ovariana não podem esperar pelo fim da pandemia. Podemos congelar óvulos ou embriões para preservar a fertilidade. O que é uma boa opção no momento”, salienta.
Wilson Jaccoud menciona que essa opção se torna mais interessante no atual momento, sem dúvida nenhuma, pois garante segurança aos casais. “A primeira é em relação à saúde, isto é, de gestar apenas após a imunização do vírus da Covid-19. E a segunda é a qualidade do embrião, pois independentemente do tempo, ao descongelamento não ocorre perda superior a 5% na qualidade desse embrião. Possibilitando a opção da transferência embrionária no momento mais oportuno, minimizando ou até evitando os riscos advindos da idade sobre seus futuros filhos”, exalta o especialista.
Segundo o especialista, quando a mulher não possui mais reserva ovariana, ela se torna inapta para realizar o congelamento de óvulos. “Exemplo disso pode acontecer na menopausa precoce. Mulheres com caso de menopausa precoce na família devem sempre ficar atentas!”, alerta.
Oilton, por sua vez, dia que todas as mulheres em idade fértil podem congelar seus óvulos, “porém, preferencialmente abaixo dos 34 anos de idade, e que não tenham parceiro definitivo. Não há limite de tempo para que fiquem congelados”.
Wilson explica que o procedimento inicia com a estimulação da ovulação: essa etapa consiste na administração de hormônios para incitar o crescimento de folículos. Assim que a maioria dos folículos atingirem um volume médio de 18 milímetros, uma última medicação é aplicada, o HCG, para maturação final dos óvulos e coleta dos mesmos dentro de 34 a 36 horas.
O procedimento de coleta de óvulos é realizado com a mulher em sedação de curta duração. Neste momento, o médico irá retirar os óvulos do interior dos folículos ovarianos com o auxílio de uma agulha guiada por ultrassom endovaginal. O líquido aspirado vai diretamente para um tubo de ensaio e é entregue ao embriologista para checagem e coleta dos óvulos. Posteriormente, são armazenados na incubadora para finalizar a maturação por cerca de 2 horas. Após este período, é feita uma seleção dos óvulos maduros que são os adequados para a futura fertilização, e que posteriormente são congelados (vitrificação) em nitrogênio líquido a -196ºC.
“Os gametas podem ficar armazenados nos containers de nitrogênio líquido por um tempo indeterminado, e quando a mulher decidir engravidar, eles são descongelados, fertilizados em laboratório e os embriões formados são transferidos para o útero. Os óvulos podem ficar congelados para sempre! Mas devemos levar em consideração que o CFM [Conselho Federal de Medicina] permite que a transferência dos embriões seja feita na mulher com até 50 anos. Então, ao congelar os óvulos, a mulher deve usá-los para formar um embrião e transferi-los com no máximo 50 anos”, acentua Wilson Jaccoud.
Fotos: Cedidas
Wilson Jaccoud explica como é feito o procedimento
Oilton: “Todas as mulheres em idade fértil podem congelar seus óvulos”