Conflito entre Rússia e Ucrânia impacta cadeia produtiva do amendoim 

Cristiano Machado

Região de PP vendeu mais de US$ 13 milhões em amendoim para os dois países desde 2020 

COLUNA - Cristiano Machado

Data 24/03/2022
Horário 03:46
Foto: Freepik
Rússia e Ucrânia são os destinos de praticamente a metade da produção de amendoim paulista
Rússia e Ucrânia são os destinos de praticamente a metade da produção de amendoim paulista

Mercado que gerou US$ 136,4 milhões em 2021 e até agora, neste ano, US$ 23,5 milhões, em negócios entre Rússia, Ucrânia e o Estado de São Paulo, a cadeia produtiva do amendoim sofre atualmente com os impactos da guerra. O temor ocorre devido aos impactos econômicos no conflito entre os dois países, alguns dos principais compradores do grão paulista, inclusive da região de Presidente Prudente, uma das maiores regiões produtoras do Brasil. 
Com exclusividade para o Oeste Agropecuário, de O Imparcial, a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas) confirmou que a cadeia produtiva tem sido afetada pela guerra que entra nesta quinta-feira, dia 24, no seu 29º dia. “A Abicab lamenta profundamente o que vem ocorrendo com as populações expostas à guerra, situação que repudiamos veementemente. Acreditamos que a prioridade neste momento é a segurança de todos”, se manifestou a entidade, por meio de sua assessoria de imprensa. 
Conforme a Abicab, Rússia e Ucrânia compram 48% do amendoim paulista. “Em relação aos impactos econômicos aos setores representados pela entidade, a situação tem afetado principalmente a cadeia produtiva do amendoim, visto que 48% das exportações brasileiras do grão têm como destino Rússia e Ucrânia. Estamos acompanhando atentamente os desdobramentos do conflito e, paralelamente, estudado cenários e possíveis soluções para minimizar o impacto negativo ao setor”, complementou a associação. 

Números 
Entre janeiro e fevereiro deste ano, dado mais recente, o Estado de São Paulo mandou para o exterior US$ 77.871.681 em amendoim. Foram, ao todo, 474.933.992 quilos.  Ao converter para a moeda brasileira – considerando o dólar na faixa de R$ 5,50 nos meses citados – os negócios giram em torno de R$ 428,2 milhões. Desse total, somente Rússia e Ucrânia, juntos, compraram US$ 23.592.152 no período (157.421.198 kg). 
Em todo o ano passado, foram comercializados US$ 428.084.881 (980.890.554 quilos) para o exterior. Em 2021, Rússia e Ucrânia compraram US$ 136.468.162 em amendoim dos produtores paulistas (317.481.512 kg).
Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Oeste Agropecuário junto ao Comex Stat, canal oficial do governo brasileiro que tem estatísticas de comércio exterior do país.
Os números se referem a esses itens listados pelo Comex Stat: a) Amendoins não torrados nem de outro modo cozidos, mesmo descascados ou triturados; b) óleo de amendoim e respectivas fracções, mesmo refinados, mas não quimicamente modificados; e c) Tortas e outros resíduos sólidos, mesmo triturados ou em pellets, da extração do óleo de amendoim. 

Região de PP vendeu mais de US$ 13 milhões em amendoim para Rússia e Ucrânia desde 2020 

De janeiro de 2020 até fevereiro de 2022 a região de Presidente Prudente (no oeste paulista) vendeu diretamente à Rússia e Ucrânia mais de US$ 13 milhões em amendoim e seus produtos.  Foram, ao todo, US$ 8.574.912 (6.924.852 quilos) no ano passado. Outros US$ 3.638.302 (3.075.000 quilos) em 2020. E mais US$ 1.139.291 (1.025.000 quilos) em janeiro e fevereiro deste ano. 
Esses dados também foram obtidos com exclusividade pelo Oeste Agropecuário junto ao Comex Stat, canal oficial do governo brasileiro que tem estatísticas de comércio exterior do país. No sistema de informação os produtos são identificados como “amendoins não torrados nem de outro modo cozidos, mesmo descascados ou triturados”. 

“Exportações estão travadas; custo de produção aumentou e preço despencou”, lamenta produtor 

Produtor rural de Regente Feijó (no oeste paulista), Helder Lamberti Filho, em entrevista ao Oeste Agropecuário, afirmou que o conflito entre Rússia e Ucrânia provocou um “momento muito perigoso” não só na fronteira entre os países, mas para a cadeia produtiva do amendoim na região, em São Paulo e no Brasil. 
“A guerra começou juntamente com a colheita e industrialização brasileira do amendoim. Alguns navios cargueiros foram atacados. Com isso, travou a exportação. As exportações estão totalmente travadas. Trouxe caos muito grande para as indústrias”, afirmou. 
Segundo ele, as sanções econômicas à Rússia agravaram a situação, já que quase 40% da produção brasileira vai para este país – e mais 10% para Ucrânia. Entre as consequências, está a queda no preço para o mercado interno. “A saca que no ano passado era vendida a R$ 90 e até R$ 100 caiu para R$ 58 a R$ 65 e até R$ 70. O custo aumentou para a produção, mas o preço caiu. Uma situação complicada, um impacto para indústria e produtores”, citou.

Divulgação

Helder Lamberti Filho: “Além de novos mercados exterior, necessitamos intensificar o consumo interno, que é baixo”

Mercados externo e interno 
Entre as soluções, enquanto não há solução de paz entre russos e ucranianos é buscar novos mercados no exterior e valorizar o consumo no próprio Brasil. “Precisamos trabalhar e buscar novos destinos para o produto. Além de novos mercados exterior, necessitamos intensificar o consumo interno, que é baixo”, afirmou. 
Segundo ele, nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consome 7 quilos de amendoim por ano, na média. A China, 14 quilos/ano. No Brasil, o consumo é de 1,2 kg/ano. “Precisamos entender os benefícios. Por que esses países descobriram os benefícios dos produtos? Temos que conscientizar a população brasileira dos benefícios da pasta e óleo do amendoim na cozinha, entende?”, finalizou. 


 

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