Confesso que sou repórter

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 18/02/2025
Horário 06:00

Já fui para casa querendo me vingar da chefia, depois de ter levado uma senhora bronca; 
Já acordei de madrugada, pensando se tinha escrito certo o texto que seria publicado;
Já fiquei horas tentando encontrar o lead da minha matéria;
Já tive inveja de leads alheios;
Já fiz leads memoráveis;
Já perdi a conta do quanto tentei explicar para meus amigos o que é “lead”;
Já fiquei horas também tentando decorar o “por que”, “porque” e “por quê”;
Já trabalhei, feliz da vida, bem mais do que meu horário previa em carteira;
Já perguntei muito por que chamam a gente de “foca” no início da carreira;
Já esconjurei repórter preguiçoso;
Já me encantei com os bons repórteres;
Já fui um iludido e um emocionado;
Já vi amigos indo embora;
Já recebi com festa os que decidiram voltar;
Já pensei muito mal de fontes que tentaram me enganar;
Já acordei de madrugada com telefonema de policial;
Já me levantei de madrugada e fui para a redação por causa de uma reportagem;
Já olhei para o meu holerite e quis chorar;
Já quis chorar diante de entrevistado;
Já quis chorar diante do editor;
Já vi a cara da fome;
Já vi a cara da morte;
Já vi o horror da traição e a bondade do perdão;
Já fiquei com raiva diante de alguém, mas mantive a pose e a sanidade;
Já dirigi atrás de resgate do Corpo de Bombeiros pela cidade. Antes, isso não dava multa;
Já saí de barzinho para apurar uma história que tinham acabado de me contar;
Já passei horas e horas em frente à penitenciária;
Já tentei decifrar um boletim de ocorrência;
Já tomei “chás de cadeira” homéricos;
Já olhei para chefias e me perguntei se um dia iria ficar igual. Para o bem e para o mal;
Já fui chefe e não gostei do ofício;
Já entrevistei prefeitos, governadores e políticos de toda sorte e botei fé neles;
Já entrevistei prefeitos, governadores e políticos de toda sorte e desacreditei fortemente na humanidade;
Já disse na cara do prefeito que o que ele fazia como obrigação do cargo definitivamente não era uma notícia;
Já recebi respostas bobas;
Já percebi que respostas bobas são resultado de perguntas bobas;
Já fui convidado a “gentilmente” sair do gabinete do prefeito;
Já fiquei em cárcere privado por causa de matéria e não foi bom;
Já me chamaram de esquerda e gostei;
Já me chamaram de direita e pensei comigo: “O que eu fiz para ele me ofender assim?”;
Já briguei pela minha profissão e nunca vou abaixar a cabeça para os hipócritas e covardes que a atacam;
Já saí da redação e fui para a sala de aula ensinar os mais jovens e lá eu continuo;
Já tive muitas dúvidas, mas tive muito mais certezas e a principal delas é que fui, sou e sempre serei o que vida me confiou;
Sim, amigos e amigas, confesso que sou repórter!

Parabéns a todos os colegas de profissão pelo dia 16 de fevereiro, Dia Nacional do Repórter! 
 

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