Na última segunda-feira, o Corinthians venceu o Palmeiras por 2 a 0 pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro 2024. O fato mais peculiar do Derby aconteceu aos 20 minutos de jogo, quando o confronto ainda estava em 0 a 0, e uma cabeça de porco foi arremessada no gramado da Neo Química Arena no momento em que o meia Raphael Veiga, do Palmeiras, se preparava para cobrar um escanteio. O acontecido repercutiu, o torcedor corinthiano que arremessou o “artefato” para o setor sul da arena se entregou à polícia e o clássico vencido pelo time do Bando de Loucos provavelmente irá entrar pra história do confronto como o “Derby da Cabeça de Porco”.
Mas da onde surgiu a alcunha “porco” para o alviverde da Barra Funda? Muitos acreditam na versão que o apelido abraçado pela torcida palmeirense veio a partir das organizadas palestrinas que entoavam o grito “Dá-lhe porco” na década de 80. O meia Jorginho chegou a posar com um porquinho e foi capa da Revista Placar em 1986. No entanto, esse contexto foi um período de ressignificação do apelido pejorativo pela torcida do Palmeiras, sendo que a institucionalização da alcunha é mais antiga e sombria.
O mês era abril e o ano 1969. Na madrugada do dia 28, um fatídico acidente de carro na Marginal Tietê ceifou a vida de dois jogadores do Corinthians, um deles foi o lateral-direito Ludgero Pereira da Silva, o Lidu, 22 anos, natural de Presidente Prudente, e o outro era o ponta-esquerda Eduardo, 26, nascido no Rio de Janeiro. Horas antes do ocorrido, na tarde do dia 27, o Alvinegro do Parque São Jorge havia empatado por 1 a 1 com o São Bento em Sorocaba pelo Campeonato Paulista daquela temporada. Conforme o Almanaque do Timão, Lidu e Eduardo haviam sido titulares do time comandado pelo técnico Dino Sani.
“Era um modesto funcionário de um frigorífico e de repente apareceu no futebol de Presidente Prudente, foi para o Londrina, e de Londrina veio para o Corinthians... mas veio pra morrer. Humilde, compenetrado, reagiu como um bravo confiando no seu futuro, que afinal o teve tão curta duração. Ultimamente vinha jogando uma enormidade e surgiu mesmo como a razão da armação defensiva corinthiana”, descreve sobre Lidu o narrador Fiori Gigliotti, que também deste plano já partiu, em seu programa “Cantinho da Saudade: Lidu e Eduardo”, da Rádio Bandeirantes.
Sobre Eduardo, Fiori Gigliotti o descreveu da seguinte maneira: “O ponteiro esquerdo veio do América do Rio, custou alguns milhões, mas sua contratação abriu caminho para um Corinthians mais forte, mais gigante. Ele vinha disputando um grande campeonato”. Confira o programa na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=labtHwg2v-8.
Dias após o acidente, de acordo com registros jornalísticos da época, o presidente do Corinthians naquele contexto, Wladih Helu, pediu a FPF (Federação Paulista de Futebol) a inscrição especial de dois atletas. Uma reunião com os representantes das equipes que disputavam o Paulistão naquela temporada foi marcada para no dia 3 de maio debater o pedido da diretoria do Corinthians.
Os representantes dos clubes participantes do campeonato votaram “sim” pela inscrição dos dois novos atletas e o único “não” ficou a cargo de José Gimenez Lopes, diretor de futebol do Palmeiras na época. Helu teria ficado revoltado e dito que os palmeirenses tinham “espírito de porco”, porém a popularização do termo “porco” foi através da Fiel.
Segundo o historiador Celso Unzelte em entrevista a ESPN, não há documentação que comprove que Helu tenha dito isso. “Não me recordo da provocação do Wadih Helu ao Palmeiras. Aliás, não tenho recordações do presidente corinthiano fazendo referências pejorativas a clubes rivais. Acredito que foi a própria torcida do Corinthians começou com essa coisa de porco, relacionando o Palmeiras com o porco”, disse Unzelte em matéria do jornalista Rafael Valente, publicada em abril de 2019.
Reprodução/Acervo Memorial do Corinthians
Lidu nasceu em 26 de agosto de 1948 em PP, e vestiu a camisa do Corinthians em 36 jogos, sendo 34 deles como titular
Nascido em 29 de agosto de 1944 no Rio de Janeiro, Eduardo fez 71 jogos pelo Corinthians