Em poucos dias percorri longas distâncias. Fiz a minha parada habitual pela cidade de São Paulo, mas participei de reuniões na capital federal antes de retornar para casa. Termino a semana com uma mistura estranha de sentimentos, fragmentos da memória afetiva, dos meus sonhos e da minha própria história. Pedaços de mim espalhados por toda parte. Quando pego a estrada, deixo para trás meu abrigo (que falta que eu sinto de ficar agarradinho no seu abraço!). Caminho a passos largos pelo centro histórico da Paulicéia, onde tropeço a todo instante nas minhas memórias juvenis. E Brasília, que parece uma enorme esfinge? “Decifra-me ou devoro-te!“ Explico.
Durante muitos anos participei de projetos no Ministério da Educação (implantação do Enem, revisão da BNCC, discussão do currículo) e no Ministário da Saúde (política de regionalização, territórios saudáveis e sustentáveis). Brasília se apresentava como um grande escritório cercado de hotéis. Por onde passa a vida cotidiana? Apenas nas cidades satélites? Foi preciso o mundo dar voltas e eu retornar para a cidade na condição do vovô do Lucas para percorrer as super-quadras e chegar à porta do cinema onde ele encontraria seus amigos de escola. Nunca poderia imaginar que há poucos metros de hotéis que amarguei longas noites solitárias pulsasse a vida do espaço banal.
Bem, para completar a confusão geral, quando retorno de viagem, descortina-se diante de mim uma gigantesca “pluma de fumaça” que tomou conta do céu das cidades no interior paulista. Você acompanhou as notícias, não é? Na linha do horizonte a cidade havia sigo engolida por uma nuvem preta e densa de partículas. “Meu Deus, não havíamos ainda saido da metrópole”, pensava eu ainda sonâmbulo. Não é isso, Raul! Dizem os metereologistas que essas grandes nuvens de fumaça são provovadas por queimadas e podem se estender por milhares de quilômetros, encobrindo os raios solares, como estava ocorrendo naquele final de tarde. Brasília estava com menos de 10% de umidade relativa (sensação de um deserto!). São Paulo com sua eterna fuligem preta. E agora, ao meu redor, focos de incêndio por todo lado. “Apocalipse now?”
Agora estou aqui escrevendo algumas notas para você, meu amigo. Me agrada nosso encontro semanal, quando cada um de nós pode falar de novo e de muitas maneiras sobre o que deseja da vida, uma vez que nunca desistimos de manter uma relação íntima com a nossa existência concreta. Enfim, conversemos por aqui do trabalho, do amor, da morte e todas as pobres coisas que preenchem a vida. Vamos começar de novo?