Durante décadas, o ovo foi visto como um pequeno vilão de casca branca. O rótulo de "aumenta o colesterol" o condenou ao banco dos réus da dieta de muita gente. Mas como acontece com muitos temas na nutrição, a história é bem mais complexa do que parece e a ciência vem fazendo justiça com o passar dos anos.
O que a maioria das pessoas ainda não sabe é que novos estudos, com grandes populações e métodos bem mais confiáveis, têm mostrado que o consumo de ovos não representa um risco cardiovascular significativo para a maioria das pessoas. Vamos aos fatos: um estudo citado no periódico Arquivos Brasileiros de Cardiologia analisou o impacto consumo de ovos sobre o perfil lipídico, ou seja, o famoso colesterol bom” (HDL) e “ruim” (LDL). A conclusão? A ingestão de até dois ovos por dia melhorou a função do HDL (o colesterol protetor) nada mal para um alimento tão simples, acessível e presente em praticamente todas as cozinhas brasileiras, não?
“Ah, doutor, mas e o colesterol da gema?” você pode estar se perguntando. Sim, o ovo contém colesterol. Mas a resposta do corpo a esse colesterol varia de pessoa para pessoa. Para a maioria (cerca de 75% da população), esse aumento é mínimo e, muitas vezes, sem relevância clínica. Em outras palavras, não é porque você come ovos que seu colesterol vai subir perigosamente.
Claro, isso não significa que devemos sair por aí fazendo omelete de seis ovos todo dia. Alimentação equilibrada é o nome do jogo. O estudo reforça que o impacto do ovo depende muito do contexto alimentar geral: quem tem uma dieta equilibrada, rica em vegetais, azeite de oliva, castanhas e pratica atividade física com regularidade, dificilmente terá problemas com a ingestão moderada de ovos.
Por outro lado, se o seu prato principal é fritura com refrigerante, o problema não é o ovo é o conjunto da obra. De nada adianta escolher um alimento saudável se todo o resto da rotina alimentar conspira contra o seu coração. Saúde se constrói com constância.
O ovo é uma fonte concentrada de nutrientes essenciais, como proteínas de alto valor biológico, vitaminas e antioxidantes naturais que protegem as células do estresse oxidativo. É um alimento completo, prático e acessível, que entrega muito valor nutricional.
Sua versatilidade é outro ponto forte: pode ser preparado de diversas formas e se encaixa bem em diferentes horários e estilos de refeição. Seja no café da manhã, almoço ou jantar, o ovo é fácil de incorporar na rotina alimentar.
A mensagem final é simples: o ovo pode, sim, fazer parte de uma alimentação saudável. Mas seu impacto depende de como ele se encaixa no conjunto da dieta. Um alimento, isoladamente, não é vilão nem mocinho. O que realmente importa é o equilíbrio: quando o padrão alimentar é variado, nutritivo e coerente com seus objetivos de saúde, o ovo entra nessa equação como um aliado e não como um problema.