O mês de março costuma ser descrito como o “mês da mulher”, em alusão à celebração do Dia Internacional da Mulher. Mas, afinal, o que temos a comemorar?
Co-memorar, isto é, coletivamente acionar lembranças, e evocar a nossa história desigual é indispensável. Nós fomos tratadas, historicamente, como pessoas incapazes, subgentes demais para votar, estudar, ocupar espaços considerados de poder, decidir sobre a própria vida e o próprio corpo. Leis, preceitos religiosos, normas sociais, acordos institucionais participaram desses processos de banalização de uma suposta inferioridade feminina. A construção social desigual dos gêneros foi e continua sendo gerida por um conjunto de estratégias desumanizadoras, tomadas como dadas e naturais.
Apesar de avanços legais e sociais, violências e apagamentos continuam sendo sistematicamente operados. Nos espaços públicos, em casa, nos ambientes de trabalho, nas instituições, na ciência, na política seguimos sendo alvos preferenciais de violações.
As estatísticas oficiais, relativas à realidade brasileira, apontam insistentemente dados alarmantes – ainda que através de números que não necessariamente traduzam toda a complexidade do problema na cotidianidade – sobre disparidades tantas que se perpetuam e fragilizam nossas possibilidades de acessar direitos, como também sobre violências vividas por meninas e mulheres, feminicídios, transfeminicídios e outras formas de violações de nossas vidas.
Compreender e enfrentar o problema passa por reconhecer a sua multidimensionalidade e, a partir dela, levantar e enfatizar interrogações diversas, que podem nos levar a outros caminhos: manter desigualdades entre pessoas beneficia quem e o quê? Como e por que algumas pessoas são lidas como humanas e outras descritas como subgentes? Temos nos responsabilizado e assumido nossa participação na manutenção de sistemas de opressão, como o sexismo e o racismo, que cooperam com a conservação de desigualdades e violências vividas por mulheres diversas? O apagamento dessa diversidade serve à manutenção de privilégios de quem?
Que essas e outras provocações nos acompanhem e abram fendas na realidade instituída. Que os nossos direitos sejam garantidos, as nossas vozes não sejam caladas e as nossas existências não sejam interrompidas. É sempre tempo de luta. Sem cessar, sigamos!