Clube de Nadismo

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 20/07/2024
Horário 05:00

As elites gregas da antiguidade praticavam o ócio digno, que significava a dedicação à filosofia, às artes, aos esportes e a política, uma vez que o trabalho era realizado pelos escravos. Não por acaso, a palavra grega “escola” significa justamente lugar do ócio. Irônica e tristemente, foi a instituição da escravidão que permitiu aos gregos a prática do ócio e o grande esplendor cultural que alcançaram. Na Idade Média, esse cenário mudou pouco e ócio continuava privilégio de uma pequena elite de nobres e clérigos. 
Com a modernidade e o avanço econômico que a transição do feudalismo para o capitalismo ensejou, a nova classe burguesa passa a nutrir verdadeiro desprezo pelo ócio. A ética protestante e o espírito do capitalismo, para parafrasear Max Weber, fez com que surgisse uma nova e nefasta ideologia de valorização do trabalho e do aproveitamento do tempo que passou a abarcar todas as classes sociais. Se as classes dominadas, escravos e servos, sempre estiveram às voltas com o trabalho em busca da sua sobrevivência ou para gerar o luxo para as elites, desde então, de forma geral, mesmo as classes dominantes passaram a trabalhar e o ócio tornou-se um luxo para poucos. 
No advento da moderna economia capitalista industrial, fruto da divisão e da exploração do trabalho, criamos uma sociedade e uma ideologia que nos afasta do ócio e da nossa verdadeira natureza e consequentemente de nossa alegria de viver. Em “O mal estar da civilização”, Sigmund Freud já mostrava que o excesso de regras e interdições morais, ligadas à cultura e a civilidade, causavam angústia e sofrimento ao homem, pois afastava o indivíduo de suas pulsões naturais, como o desejo de descanso, alimentos ou sexo. Nietzsche, por sua vez, dizia que invejamos os animais, talvez porque eles vivem felizes no ócio enquanto que nós vivemos infelizes com tantos afazeres. 
Em a “Sociedade do cansaço”, o filósofo sul coreano Byung-Chul Han mostra como nossa sociedade contemporânea está doente diante do excesso de coisas que temos a fazer. Para a autor, estamos vivendo uma era de patologias psíquicas, causadas, justamente, pelo excesso de trabalho e pelo o que ele chama de sociedade do desempenho. O sofrimento coletivo que experimentamos vem do paradoxo de podermos escolher o ócio enquanto que na prática temos escolhido ter o melhor desempenho em tudo, na vida pessoal e profissional e estamos cansados de tanto fazer e doentes diante de poder fazer essa escolha entre o ócio e o desempenho.
Talvez seja por essas razões que cada vez mais pessoas têm buscado formas alternativas de viver, com movimentos sociais tais como o Clube de Nadismo, o Ócio Criativo, o Simplicidade, o Movimento Slow, o Clube da Preguiça, entre outros. Evidentemente que essa não é uma escolha para todos, e por isso que os gregos talvez estivessem certos, ao buscar um equilíbrio entre Apolo, Deus da beleza e das virtudes, e Dionísio, Deus do vinho e das festas. Como hoje é sábado, invoquemos Dionísio, pois Apolo pode esperar até segunda. 

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