O deslumbramento é imediato, são tantas descobertas em tão pouco tempo que seria inimaginável que seria tão bom assim. É um universo novo que se descortina a cada aula, a cada texto lido e debatido. Como é possível que eu estivesse tão certo, em um lugar tão meu, embora pouco ou quase nada eu soubesse a seu respeito. Pode-se dizer que se trata de uma atração quase fatal. Nos sentimos compelidos a seguir esse caminho, muito embora, os inúmeros avisos de que não seria boa ideia.
A criticidade é algo que se aprende cotidianamente, como parte intrínseca de sua epistemologia, o senso crítico é apurado dia a dia. No início não se nota, mas com o tempo você não consegue se desvencilhar dela, a crítica. Ela serve ao métier, mas também a outras coisas, à recepção de notícias, de discursos, de saberes e políticas. Ficamos infelizes, pessimistas e muitas vezes sem esperança ou em busca dela, são outras desvantagens para a vida.
A formação é clássica, recheada de textos complexos, leituras densas, muita escrita, debate e apresentações. Aprende-se de tudo um pouco, economia, geografia, filosofia, antropologia, sociologia. Vêm no pacote a literatura, a música, às vezes o teatro, as artes plásticas, a poesia. O desenvolvimento paulatino das faculdades mentais superiores é árduo, exige esforço e dedicação, pensa-se em desistir, quase sempre, nos fichamentos, nos seminários e nas avaliações.
Mais tarde, ao longo do caminho, você descobre a pesquisa que é parte integrante da formação clássica, mas que nem todos a ela se dedicam. São inúmeros os caminhos e as possibilidades, a iniciação científica, o mestrado e o doutorado, os congressos, as revistas, as publicações e os livros. Documentos, fontes, teorias e bibliografia. A solidão da pesquisa, o prazer da descoberta e o assombro cotidiano com a diferença. O sofrimento vem junto, é o ego, a humilhação, a competição. As bolsas nem tão boas, as perspectivas ruins, a incerteza e as inverdades.
A sala de aula e a docência são uma paixão, na acepção grega, uma paixão que pode vir a ser uma doença, pois quando se é tomado por ela, todas as dificuldades são pequenas diante da realização desse ideal. É um prazer ensinar e aprender cotidianamente, estar na escola, estar com os alunos, compartilhando o saber e vivendo a vida. A valorização desse personagem tão essencial aparece sempre, de diversas formas, no carinho da convivência e no prazer da troca. A carreira é difícil, ganha-se relativamente pouco, a estima é pequena, dos ignorantes, principalmente. As dificuldades se somam, é uma luta diária, mas como fugir desse ideal?
As ideias foram dispostas dialeticamente, nas inúmeras contradições inerentes a qualquer caminho que tomamos na vida. Mas a síntese é o curso de História. Se estudamos história para dar sentido à vida, para muitos de nós, estudantes e professores, o curso de História é as nossas vidas. Não o escolhemos, fomos impelidos a ele pelo amor ao conhecimento e ao passado. Não existe, nesse caso, aporia nenhuma. Dialeticamente nele estamos e somos, às vezes, à revelia de nós mesmos.