Quem não tem um professor inesquecível, que faz parte de sua história de vida? Naquele dia ela brilhava, naquele dia voava. Naquele dia... Juntou três textos em um, e nos contou tudo. Pediu para esperar, precisava passar para todos nós, tudo o que vislumbrava e que após, abriria para conversas. Penso que há professores que sonham dando aula para seus alunos. Penso que Cibele sonha conosco. Pensei em um passarinho com seu biquinho cheio de comida, levando para os seus filhotes no ninho. Precisava chegar. Contou-nos tudo, e daí pode descansar.
Nesse Dia dos Professores, Cibele apareceu nos meus sonhos. Ela nos inspira e é um bom continente. Naquele dia, seu entusiasmo contagiou a todos. Cintilava Danielle Quinodoz (1934-2015) em seu surpreso seminário sobre “Envelhecimento: uma descoberta”. Ela indaga em relação aos idosos e suas vicissitudes: todos os dias se parecem? Nada se passa? Tudo mesmo, se repete? Contribuir com um idoso na reconstituição de sua história pode ser um verdadeiro prazer compartilhado. Essa necessidade de encontrar uma coerência na vida pode estar presente em cada idade. Como a pessoa entende o tempo? O idoso vive conectado com o presente? Fixar-se no tempo que tinha sucesso, mais vigor, ficar preso no passado, como será o presente?
Em “O Pequeno Segundo da Eternidade”, o que fazer na transitoriedade? Vivemos imensamente, um dia de cada vez? Vivemos o presente, o dia de hoje? A autora judia de em “Cartas e Diários de Etty Hillesum” (2002), escrito durante a Segunda Guerra Mundial, foi perseguida em Amsterdã antes de ser enviada para um campo de concentração, ela sabia que não sobreviveria à deportação. Apesar de todas as atrocidades que viveu e sobre as quais escreveu, ainda conseguiu admirar um belo pôr do sol e notar a bondade de algumas das pessoas que conheceu.
Para Hillesum, esses foram os pequenos segundos de eternidade que a ajudaram a não ser dominada pelo desespero e a apoiaram em sua crença de que a vida valia a pena ser vivida. Assim, naquele dia, ela coroou a nossa tarde, na segunda-feira. Conheço Cibele já de muitos invernos, outonos, primaveras e verões. Seja lá qual for a estação do ano, ela encontra-se irradiando, espelhando vontade e desejo, despertando no outro a capacidade epistemológica.
Já foi minha professora lá pelos idos dos anos 2000 e continua sendo. Foi minha entrevistadora, supervisora e lembro de um caso específico, em que recomendou o texto de David Zimerman, no Manual de Técnica Psicanalítica, chamado: A clínica do Vazio. Cibele di Battista Brandão e sua incansável forma de acolher a todos seguem luzindo, como membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Docente do Instituto Durval Marcondes. Membro, docente e presidente do Grupo de Estudos de Marília e Região. Ela transmite e compartilha todo o seu saber e de forma alguma, economiza. É generosa e um grande exemplo de professora. Em todos os anos que convivi com ela, não ouvi um “não” vindo de sua parte. Sempre à disposição e a postos. Nesse dia tão especial, dos professores, homenageio todos os demais, com a sua pessoa. Salve, salve todos os professores!