CHARANGA DOMINGUEIRA de 28-02-2016

Esportes - Flávio Araújo

Data 28/02/2016
Horário 09:34

A BELA ITÁLIA E SEU FUTEBOL FEIO E GANHADOR


 

Ferruccio Valcareggi era o técnico da Itália na Copa do Mundo de 1970. Apanhou muito da imprensa de seu país antes e durante a Copa. Numa entrevista coletiva disse ser irrelevante que sua equipe empatasse em 0 a 0 em todos os seus 3 jogos iniciais desde que se classificasse para as quartas. A Itália marcou um gol naqueles 3 jogos vencendo a Suécia por 1 a 0 e depois obteve dois empates sem gols contra Uruguai e Israel. O técnico sabia o material que tinha na mão e trabalhava bem de acordo com o mesmo. Tanto que nas quartas de final enfiou 4 a 1 nos esperançosos mexicanos, chegou à final contra o Brasil e outro poderia ser o desempenho da equipe não houvesse a mesma se exaurido no jogo diante da Alemanha na semifinal em que venceu por 4 a 3 na prorrogação quando foram marcados 5 gols em 30 minutos. Contam os antigos historiadores que assim foi o futebol italiano desde os tempos de Vittório Pozzo e do bicampeonato de 1934 e 1938. Um futebol feio, sem cara de espetáculo de seleção e que vai subindo gradativamente a cada partida sempre jogando por resultados. Típico do lema de Benito Mussolini para seus compatriotas da "azurra": "vencer ou morrer". Em 1982, Enzo Bearzot, o técnico italiano, apanhou da imprensa de seu país até mais que Valcareggi em 70 e, campeão com méritos, ao final obteve os seguintes resultados na etapa inicial: Itália 0 e Polônia 0; Itália 1 e Peru 1;  Itália 1 e Camarões 1. Pergunto: pode uma seleção com tais resultados acabar o certame como lídima campeã do mundo deixando para trás equipes de qualidade como foram Brasil e França naquele mundial? Se é a Itália, pode. Vi esta semana, na segunda-feira, o falado jogo entre Napoli 1 e Milan 1. Jogo de baixa qualidade, apesar do esforço dos locutores brasileiros em  transformá-lo em espetáculo. Notem que o futebol italiano inflado de jogadores estrangeiros, todos de nível de seleção em seus países, mas ao contrário do que acontece em outros campeonatos, ao invés de imporem à Itália seu modo de jogar, são adaptados ao verdadeiro buraco negro que é o que prevalece ali. Enquanto os brasileiros e argentinos modificaram a forma de jogar da Espanha com um futebol de toques e jogadas de efeito que fez esquecer o que se chamava de fúria, na Itália não houve nada disso. Brasileiros, argentinos e uruguaios na Itália transformaram-se em italianos genuínos na forma de jogar futebol ao invés de fazerem com que os locais aprendessem os toques geniais com que Ronaldinho Gaúcho, ontem, e Messi, hoje, mudaram a fisionomia do futebol espanhol.

 

Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.

 
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