Charanga Domingueira de 26-01-2014
O lance para fotos sempre relembradas é o de Josef Masopust, o capitão checo cercando seus companheiros
A primeira vez de Neymar
O som do rádio produziu uma espécie de anestesia coletiva no povo brasileiro quando Ghiggia bateu Barbosa no Maracanã em 1950 e quando Pelé se contundiu diante da Tchecoslováquia em 1962. O gol do uruguaio nos tiraria um mundial e a contusão de Pelé impediria um bi. O Brasil vinha embalado pela conquista de 1958 e a dupla Pelé/Coutinho produzia maravilhas em campo. É certo que na hora do "vamos ver" a coragem e o ímpeto de Vavá superariam as finesses de Coutinho, mas Pelé ali estava. Em seus pés residiam nossas maiores esperanças.
Depois daquele aparentemente fatídico 2 de junho o menino só voltaria a jogar em outubro, campeonato paulista, curiosamente contra a Prudentina aqui na santa terrinha. A cena ainda hoje é marcante na história do futebol: como não havia ainda o recurso de substituições Pelé ficou em campo e os tchecos não o acossavam. O lance para fotos sempre relembradas é o de Josef Masopust, o capitão checo cercando seus companheiros impedindo que Pelé fosse acossado ao receber a bola e soltando-a o mais rápido possível.
Amarildo, na recente entrega de prêmios aos melhores do mundo pela Fifa recordou o acontecido e num discurso inesperado criticou a violência de torcidas dos últimos tempos e falou da "fria" em que foi atirado por Pelé. Na verdade a "fria", ou "fogueira", acabou por se transformar no trampolim para Amarildo e na revelação de outro grande valor de primeiríssima qualidade na época de ouro do futebol no país.
Neymar, voltando ao presente, sempre foi caçado e maltratado por seus marcadores em campo e tanto apanhou que aprendeu a cair como caem os praticantes de jiu-jitsu amortecendo o impacto. Não foi, porém, um choque diante de um adversário que lhe causou a torsão no tornozelo. Neymar está com 21 anos, foi sozinho que sofreu seu primeiro golpe grave e para aumentar a coincidência, tem a mesma idade que Pelé tinha quando foi alijado da Copa de 1962.
Pelé, ao contrário de Neymar era um veterano das enfermarias e quase não jogou a Copa de 1958. Partiu para a Suécia sob intensos cuidados médicos e só entrou no 3º jogo do Escrete. Menos mal que a contusão de Neymar tenha acontecido agora com tempo de recuperação para que o Brasil conte com ele a partir de 7 de maio. Creia ou não, mas aquele velho axioma de que ninguém é insubstituível deve ser deixado de lado nessa possível e desagradável circunstância. O Brasil que podia ganhar (como ganhou) Copa do Mundo sem Pelé, no momento não pode viver sem o futebol de Neymar.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço