A LUSA NÃO MERECE ESSE CASTIGO
Tristeza, profunda tristeza o que se passa com a Portuguesa de Desportos. Detentora de uma tradição que poucos conquistam, entrou no redemoinho que ameaça sua própria existência como clube e como time de futebol. A Lusa não é um timeco desses que por aí pululam como balcão de negócios a proporcionar ganhos milionários e imerecidos aos espertalhões. A Portuguesa tem tradição e tradição é algo que se conquista, não se compra na loja da esquina e nem na mais luxuosa das grifes da Oscar Freire. É a representante da operosa e poderosa colônia lusitana em São Paulo, possuidora de um PIB grandioso e singular. Seguidas diretorias incompetentes foram minando a situação econômica do clube que hoje se vê num beco sem saída. Desde que se viu alijada da divisão principal naquela confusão em que foi rebaixada em favor do Fluminense, a Portuguesa só vem descendo a ladeira. Agora estará na quarta divisão. Estará? Sempre existiu dentro da mesma um sentimento de revolta contra as arbitragens encomendadas que lhe tiraram campeonatos. E dessa verdade sou testemunha e dou fé. Lembro-me daqueles 3 a 2 para o Santos na decisão do Paulistão de 1964 que transmiti. Arbitragem danosa de Armando Marques. Lembro-me quando o argentino Castrili a garfou num jogo diante do Corinthians. Mas, na verdade foram centenas de vezes em que os sopradores de apito a tiraram do caminho. Lembro-me da Portuguesa em sua modesta sede no Largo São Bento. Tempos da bi-fita azul quando a Lusa devastou o planeta vencendo o que encontrava pela frente em duas memoráveis excursões. O futebol brasileiro ainda não ganhara nada. Depois da depressão da perda da Copa de 1950 foi na Portuguesa que Zezé Moreira foi buscar a base para a primeira vitória do Brasil fora de casa, o Panamericano do Chile em 1952. Com Osvaldo Teixeira Duarte no comando um pântano transformou-se num clube e um estádio próprio se ergueu sem verbas públicas e sem conchavos. Só para recordar com os mais antigos e informar aos jovens de um time que tinha Muca, Nena e Noronha. Ceci, Brandãozinho e Zinho. Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão. Na fase áurea da Prudentina, 1949, a Lusa foi a única a conseguir goleá-la em Prudente mesmo. E as estrelas que dali surgiram? Djalma Santos, Zé Maria, Felix, Ditão, Zé Roberto, Marinho Peres, Ipojucã, Capitão, Lorico, Leivinha, Servilio, Dener, Enéas, Zé Amaro, desculpem se páro por aqui, pois a lista de valores surgidos na Lusa além daquela escalação citada é infinita. A Portuguesa e a colônia lusa não merecem esse castigo.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.