Charanga Domingueira de 25-05-2014
Foi vista in-loco por 1,337 milhão de pessoas e pelo número de jogos somente em 1994 esse recorde foi ultrapassado.
Maracanã, monumento maior do IV Mundial
O planeta estava em paz e a Copa do Mundo seria o símbolo dessa maravilha. Canhões ainda troavam nas mais distintas regiões. Mas, nada comparado aos conflitos que tantas vidas ceifaram. A indústria da guerra continuava e, enquanto alguns países iniciavam a marcha da recuperação, outros já prelibavam o bom-bocado alheio. Berlim era o foco maior e a Guerra Fria entre soviéticos e americanos só estava nos primeiros graus do termômetro.
No Brasil havia guerras, mas aquelas que os sambas definiam como batalhas de confete. Mesmo que acirradas no mais desbocado e diplomático tratamento entre políticos no Parlamento. O Rio ainda era a capital e finalmente a Copa do Mundo de 1942 que o conflito adiou se anunciava com pompa e circunstância em 1950. A Argentina fez beicinho porque queria a Copa e não veio. Os europeus ainda mal recuperados não vieram em peso aos nossos singelos estádios.
O grande foco era o Maracanã, o verdadeiro pomo da discórdia. Carlos Lacerda era a voz dissonante mais aguda em sua catilinária contra a construção do estádio. Ary Barroso defendia, mas preferia outro lugar. A força do jornal de Mário Filho foi decisiva e o Maracanã se fez em menos de um ano. O maior do mundo estaria engalanado quando Brasil e México o pisassem. E o espetáculo se fez. Não com a grandiosidade esperada.
Basta dizer que ao Uruguai bastou ganhar da frágil Bolívia (8 a 0) e já estava no turno final. Que seria jogado, todos contra todos, entre os classificados dos quatro desequilibrados grupos. Brasil 7 x 1 Suécia; Uruguai 2 x 2 Espanha, empate que nos daria a vantagem de outra igualdade na última partida. Brasil 6 x 1 Espanha, Uruguai 3 x 2 Suécia e Suécia 3 x 1 Espanha. Finalmente o último jogo da tabela, Uruguai 2 x 1 Brasil.
Faz muito tempo que apaguei de minha memória a palavra "tragédia do Maracanã". Em futebol se perde e se ganha. Aquela foi uma grande Copa sem a necessidade desses investimentos fabulosos dos dias atuais. Foi vista in-loco por 1,337 milhão de pessoas e pelo número de jogos somente em 1994 esse recorde foi ultrapassado.
Tantas histórias já escrevi a respeito e tantas outras já li que minha compreensão é exatamente no sentido de que aquele era o verdadeiro futebol do Brasil. Hoje ele está globalizado e quando se discute a convocação atual a pendência é saber se o jogador x deve ficar 5 ou 10 metros a frente do jogador y. Dentro da grandiosidade dos estádios e do dinheiro público gasto o mais importante é que sobrem alguns legados. Como isso é uma falácia contentemo-nos com o hexa.
Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço