Charanga Domingueira de 22/02/2015
Só para deixar o registro completo adianto que o jogo contra os presidiários terminou no mais absoluto clima de paz e com abraços mútuos de muita confraternização.
A cartolagem subvenciona a bandidagem
Quando da fase áurea do Escrete do Rádio tínhamos um time de futebol que percorreu o Brasil jogando partidas em caráter beneficente. Se no microfone, a Bandeirantes era imbatível o mesmo não acontecia com nosso time que não era de nada. O que não impedia que arrastássemos multidões onde jogássemos.
Dentro do princípio de só jogarmos produzindo benefícios atuamos no campinho dentro dos muros da Penitenciária do Carandiru, em São Paulo, hoje um parque público. A mesma deixou de existir depois do chamado massacre do Carandiru, quando centenas de presos e soldados foram sacrificados. Oficialmente se falou em 111 mortos entre os apenados, mas esses números jamais foram confirmados oficialmente.
O tema me ocorre quando cresce a violência entre torcidas no futebol e onde as organizadas respondem pela responsabilidade da maioria de verdadeiras tragédias. Só para deixar o registro completo adianto que o jogo contra os presidiários terminou no mais absoluto clima de paz e com abraços mútuos de muita confraternização.
Na partida recente do Corinthians, na cidade colombiana de Manizales, flagrei uma faixa de uma organizada com os dizeres: "Torcidas Uniformizadas da Holocausto nove zona once". A simples menção da palavra "holocausto" como nome de torcida já causou um frio na barriga. Lembrei-me que o Corinthians tem uma uniformizada com o nome de "Pavilhão Nove", que a princípio nos remete à mortandade do Carandiru. Nada a ver uma coisa com outra.
Segundo os colombianos, a "holocausto" deles nada tem a ver com o sacrifício de 6 milhões de judeus no mais triste episódio da 2ª Guerra Mundial. E a "Pavilhão Nove" do Corinthians simplesmente tem essa denominação por ter sido fundada por 9 torcedores no dia 9 de setembro de 1990, portanto dois anos antes do massacre do Carandiru, que ocorreu em 2 de outubro de 1992.
De modo que não nos percamos pelos nomes e sim nos acautelemos contra os fatos. Corinthians e São Paulo fizeram uma vaquinha para pagar os ônibus que trouxeram os são-paulinos do Itaquera ao centro metrô depois do jogo da última quarta-feira. Esta sim é uma demonstração da leniência da cartolagem futebolística pagando para os baderneiros poderem praticar seus atos de vandalismo. As cadeiras arrebentadas lá estão a atestar.
Quem gosta de futebol vai para se deleitar com o mesmo. Os presidiários do Carandiru assim o provaram quando ali atuamos. Baderneiros das organizadas é que deveriam estar lá. Nomes exóticos nada têm a ver com a impunidade e o beneplácito dos cartolas que são os maiores culpados.
Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço