ABERRAÇÃO E BANALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO
Figura das mais controvertidas na história do futebol brasileiro e internacional, João Havelange marcou sua passagem pela presidência da Fifa com decisões que provocaram a expansão do esporte pelo planeta. Não vou discutir aqui métodos que acabaram permitindo que a corrupção se instalasse na entidade mundial do futebol a ponto de provocar a prisão de algumas figuras notórias ligadas à entidade. Já tenho escrito muito sobre esse tema e em época de Lava Jato no nosso país não adianta ficar denunciando o que ocorre lá fora. Mesmo que brasileiros sejam seus fregueses de primeira fila. Havelange expandiu o futebol dando oportunidade principalmente aos campeonatos de divisões inferiores. É também verdade que em seu governo a Copa do Mundo passou de 16 para 24 países. Até ai, porém, era razoável o número de concorrentes. Razoável, seria esse o termo mais adequado porque no planeta não existem 24 seleções de primeira linha para disputar um mundial com chances de vitória e o ideal é que as equipes que se classifiquem mostrem algo mais do que simplesmente participar. À busca incessante de votos por parte dos mandatários em exercício da Fifa deve-se o aumento exagerado de participantes. E à busca de dinheiro, também. A corrupção é endêmica e o ideal é que se buscasse estancar a fábrica de milionários que a Fifa fabrica. Nada obstante, a busca de votos obedece ao mesmo esquema que o brasileiro encontrou para se tornar tão longevo no cargo. Gianni Infantino, esperava-se, lutaria contra a corrupção, mas também traria alguma novidade aproveitável nos mundiais, o pomo dourado nos faturamentos da entidade. Essa informação de que a Copa do Mundo em 2026 será disputada por 48 seleções foge totalmente ao que se espera de um mundial de países onde devem estar presentes somente as equipes que mostrem espetáculo. Um mundial com tantos países jamais terá a qualidade necessária. Será a banalização da maior competição no futebol mundial. Até pelo fato de que tão somente na Copa do Mundo iríamos ver o surgimento de novas táticas e a beleza plástica do futebol praticado por novas revelações. Quem quisesse estar entre os privilegiados de alta qualidade que passasse pelas etapas eliminatórias e chegasse mostrando e querendo algo mais. Como a modificação só será introduzida a partir do ano de 2026 sinto-me gratificado por não ter que testemunhá-lo. Melhor ficar apenas com as recordações dos grandes mundiais que vi e onde somente os que realmente tinham bala na agulha entravam na disputa.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.