Johann Cruyff, o maior nome do futebol holandês e que há pouco nos deixou, morreu dizendo que o esquema usado pela Laranja Mecânica na Copa do Mundo de 1974 e que surpreendeu o mundo foi fruto do acaso. Que nas conversas com Rinus Michels, na liberal concentração holandesa na Copa do Mundo de 1974, nasceu a ideia de aprontarem uma bagunça organizada dentro do campo onde ninguém guardaria posição. Bagunça para os adversários e para os observadores, mas organizada para eles. A tática do impedimento era antiga, apenas que não a aplicavam com o devido cuidado. Mesmo duvidando das palavras de Cruyff sou obrigado a concordar que no Barcelona o mesmo esquema acabou por naufragar. Não havia homens com a qualificação suficiente para executá-lo. Quando quis formar no Mogi-Mirim, uma imitação do futebol holandês de 1974, só conseguiu mesmo revelar para o futebol o valor de Rivaldo, Leto e Válber... Taticamente, o tal coquetel caipira era só nomenclatura. Feola executava funções burocráticas no São Paulo quando Paulo de Carvalho o chamou para dirigir a seleção brasileira que iria disputar num clima todo de pessimismo a Copa do Mundo de 1958. Em certa época o São Paulo, de quem Feola era funcionário de carteira assinada, chegou a emprestá-lo ao XV de Piracicaba. E a Copa da Suécia foi a mais importante que o Brasil conquistou porque abriu caminho para todas as demais. É claro que existe uma imensa diferença entre Dunga e Feola, além do fato de não serem ligados a questões táticas que hoje imperam no futebol. Mano Menezes e Vanderlei Luxemburgo estão voltando da China depois de apenas seis meses no grande país. E Luxemburgo dirigia uma equipe de segunda-divisão. Só serviram para fechar ainda mais o caminho para os técnicos brasileiros, principalmente os milionários confinados ao mercado interno onde não lhes falta lugar. A maior diferença entre Feola e Dunga é que o primeiro era um homem educado, de diálogo e que aceitou a ponderação de alguns líderes do time e com isso ajudou a ganhar a Copa. Dunga, além de ser um sargentão no pior estilo, não tinha nem um grupo de líderes com quem dialogar. E se tivesse não lhes daria a palavra em momento algum. Sua culpa em parte é a ausência da simpatia que sobra em Tite. A culpa total é da barafunda que domina o país. E que dominará até quando não se eliminar a quadrilha que tomou conta do mesmo e fez da CBF a dona da seleção terceirizando seus jogos. O que acabou foi a capacidade de expulsar essa quadrilha que engorda as suas custas contas nos paraísos fiscais. Tite que se prepare.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.