Em Buenos Aires, a hora da verdade
Evidente que um torneio com 20 rodadas não permite nenhuma consideração mais ampla depois das duas primeiras. Mas, algo se pode ver do geral quando as seleções sul-americanas já jogaram uma em casa e outra fora. O espírito de luta de todas elas apareceu também nessas duas partidas. O Brasil continua em busca de si mesmo. A vergonha dos 7 a 1 grudou e não saiu. Ganhar da Venezuela eram favas contadas e lícito também era a torcida esperar por uma exibição exuberante e até uma goleada. Ainda mais quando conseguiu um gol nos primeiros segundos da contenda e que serviria para impedir qualquer tentativa do adversário de se retrancar e cavalgar com esperanças de um empate. Ao final do primeiro tempo, a torcida cearense, sempre fiel e cumpridora, ensaiava uma tênue vaia, de resto merecida.
Também a teimosia de Dunga é demasiada e, tendo a equipe nas mãos pelo tipo de jogo que até o imaginário deus dos estádios saberia declamar em latim arcaico ou inglês moderno, o técnico insiste com Oscar e deixa Lucas Lima no banco. Merece ou não merece ser vaiado? Os dois gols que a Venezuela perdeu em cabeçadas de bola parada, que nossa defesa permitiu, provocariam um desastre se a bola não fosse diretamente para as mãos do goleiro Alisson. Houvesse um Godin entre os venezuelanos e, fatalmente, estaríamos comentando esse desastre.
Algum conjunto foi mostrado pelo escrete, algumas jogadas acabaram aparecendo, e a vitória por 3 a 1 foi justa, mas longe de ser o espetáculo que se esperava. O Brasil aparece apenas na quinta colocação e até o momento o Uruguai, que também jogou desfalcado e sem os seus dois atacantes que são referência internacional - Suarez, do Barcelona e Edinson Cavani, do Paris Saint Germain -, lidera com dois triunfos tendo marcado cinco gols e não sofrido nenhum. A Argentina decepcionou mais na derrota em casa para o Equador do que no empate desta etapa em Assunção. Jogar no Paraguai foi sempre uma parada difícil para os argentinos, como será para nós também.
O futebol brasileiro continua contando com seus privilégios indiscutíveis de maternidade de grandes jogadores. Willian, o atacante revelado pelo Corinthians e que já sofreu o frio do leste europeu e hoje está no Chelsea, aparece como nossa grande revelação e vem jogando, jogou muito, mas a verdade para a seleção só aparecerá no dia 12 de novembro, em Buenos Aires, quando enfrentarmos a Argentina. Até lá, esperamos que Dunga aperte os parafusos em sua cabeça e enxergue que Lucas Lima com o que está jogando, não pode ficar de fora.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.