Da anemia de Neymar aos dentes pobres dos campeões (final)
Dou continuidade ao tema do domingo anterior. Flávio Iazzeti, Paulo Planet Buarque, Álvaro Paes Leme, Ary Silva, todos meus colegas no jornalismo da época, foram as personalidades que elaboraram o plano que o doutor Paulo seguiu à risca sem desvios de espécie alguma. O único, que poderia ser chamado de político no grupo somente participou como convidado para algumas eventuais informações, foi o deputado socialista Rogê Ferreira. Só para não passar despercebido: Rogê era mesmo socialista e não apenas vinculado a um partido com finalidade eleitoral.
O que tem isso a ver com a notícia da anemia de Neymar com que iniciei a coluna de domingo passado? Respondo que um dos homens que mais trabalharam naquele período em que a seleção iniciaria sua concentração começando pelo então Hotel Quisisana, em Poços de Caldas, foi o cirurgião-dentista Mário Trigo Loureiro.
Trigo era da equipe do doutor Hilton Gossling, o chefe do setor médico que cuidaria da saúde dos atletas e pena que aqui já não estejam para falar sobre o imenso trabalho que tiveram com os jogadores. Anemias as mais diversas, focos dentários provocando infecções generalizadas foi o que mais encontraram nas primeiras baterias de exames dos atletas. Raríssimos estavam em boas condições fisiológicas. Foi um trabalho estafante onde o boticão do cirurgião foi utilizado em diversos procedimentos já que o tempo curto não permitia possibilidade de se alcançar êxito total apenas com tratamento clínico.
Hoje é impossível imaginar um craque de seleção brasileira com a boca prenhe de cáries, algumas em estado avançado ocasionando problemas que se alastravam por nervos e músculos. Mário Trigo era um especialista em contar piadas e não se separava de um caderninho com folhas em espiral onde escrevia as mais novas para seu imenso repertório. Com algum acréscimo de sua parte em pouco tempo já as interpretava ao seu modo, forma que usava e abusava para fazer com que os futuros heróis da Suécia mantivessem abertas suas bocas enquanto o dentista, que depois faria sucesso como professor em Brasília, bem executasse suas funções.
Quanto a Neymar, só espero que os espanhóis não exagerem na dose e depois do tratamento a que será submetido ele não somente recupere os glóbulos vermelhos em falta, mas, principalmente, se mantenha no peso ideal. A notícia de que está com cinco quilos abaixo do peso normal é coerente e ultrapassar a recuperação com base nesse número será ponto determinante para transformá-lo num novo Robinho. Algo que ninguém quer.
Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço