CHARANGA DOMINGUEIRA de 17-07-2016

Esportes - Flávio Araújo

Data 17/07/2016
Horário 11:44
 

 

"PASSARAM AINDA ALÉM DA TAPROBANA"


Foi como se os versos dos Lusíadas, símbolo da alma lusitana, fossem reescritos e sem a pena de Luiz Vaz de Camões. Portugal venceu a Eurocopa vingando a derrota diante dos gregos em 2004 e venceu de forma heroica, na casa do favorito adversário, jogando do primeiro ao último minuto de forma determinada e sem vacilar jamais. E numa circunstância toda especial: sem Cristiano Ronaldo, que diziam ser seu único trunfo. Sabia-se que a França tinha equipe mais forte, em melhores condições para não deixar fugir a glória. Que tudo estava preparado para que o canto da Marselhesa ressoasse da Normandia a Provence e a Eurocopa ficaria no país. Portugal tinha uma chance: e se Cristiano Ronaldo fizesse um gol... Somente o grande astro português num lance individual poderia fazer a diferença. Tudo pareceu se transformar numa nuvem de mau presságio quando aos sete minutos o médio Payet, atingiu duramente o joelho de Ronaldo. O árbitro inglês Mark Clattemburg nem falta marcou quando Payet merecia no mínimo um amarelo. A seleção afrogalesa que veste de azul e com base em descendentes de colonizados já ganhou Copa do Mundo e mais do que nunca viu explodir em seus torcedores a vitória eminente. Não era a França de Fontaine (argelino), Zidane, idem e Platini, o único realmente francês. Mas era a França da Marselhesa, de Jacques de Molay e de De Gaulle. Cristiano, chorando de dor, tentou voltar ao duelo, insistiu, mas não deu e deixou o campo antes dos 25 minutos entrando o veterano Quaresma. Enrolou o joelho em gelo e foi gritar e incentivar os companheiros tomando muitas vezes o lugar do técnico Fernando Santos. Portugal sentiu desaparecerem suas remotas esperanças como tantas caravelas que séculos antes foram adormeceram no fundo do cabo das Tormentas. Dominado no primeiro tempo suportou com as defesas de Rui Patrício e com o leão Pepe, um sergipano que devolvia com honra o que devemos a Cabral. No segundo tempo já melhorou de produção e desceu algumas vezes ao ataque. Uma bola na trave para cada lado e o 0 a 0 recorrente até na prorrogação apontava para uma decisão por penais. Foi quando aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação um balaço de Eder, que veio do banco, lá do fundo da praça do Comércio sacudiu a nova linha Maginot francesa. Escreveu-se então a maior vitória do futebol português. "As armas e os barões assinalados" ultrapassaram o cabo das Tormentas e a Tapobrana  de Camões se desenhou à sua frente. Portugal, campeão da Eurocopa, com méritos e sem e com Cristiano para que o sabor fosse ainda maior.

 

Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.

 
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