O LEGADO DE PALMEIRAS X PENAROL
Em minhas lembranças mais profundas dos tempos de criança e dos jogos de botões na casa do Jayme Silva, os cotejos entre Palmeiras e Peñarol ocupam um lugar todo especial. O certo é que eram realmente duelos especiais aqueles que essas equipes travavam e que bem retratavam a rivalidade existente entre o futebol brasileiro e o uruguaio. Jogos elétricos, fios desencapados e cujo efeito pareciam ter nascido desde a terrível decisão da Copa do Mundo de 1950. Os mais antigos falam que a rivalidade nasceu mesmo em 1919 com o gol de Friedenreich. Depois houve um jogo entre as duas grandes equipes que ficou na história. Foi a decisão da segunda Copa Libertadores da América, Peñarol, campeão e Palmeiras, vice. Isso aconteceu no dia 11 de junho de 1961 e o grande clube uruguaio, uma das razões para a existência e nascimento da competição já tinha vencido a disputa no ano anterior. No primeiro cotejo decisivo em Montevideo o Palmeiras sustentava um empate heroico até o final, quando Djalma Santos, ao recuar uma bola, deu chance ao time uruguaio de fazer o gol, que afinal de contas decidiria o título. No jogo seguinte, no Pacaembu, estava eu atrás do gol defendido por Valdir Joaquim de Morais, quando o chute de Sasia vazou os gomos da rede e subiu quase que em linha reta. Para a imensa maioria a bola tocara no travessão, mas como testemunha, creio que praticamente exclusiva, vi que a bola tinha entrado e não poderia deixar de dar minha visão. Aquele gol ficou na história. Agora, nesta semana, Palmeiras e Peñarol voltaram a mostrar a dureza dessa competição e o muito que ela tem pela frente até que um campeão se descortine. Apenas que o futebol não é o mesmo do passado. Isso de ambos os lados. A Copa Libertadores é uma disputa que não se livra dos velhos vícios de antanho quando o futebol de enfrentamento quase sempre terminava em pancadaria, principalmente quando brasileiros e uruguaios eram os contendores. Você vê um brilhante jogo da Liga dos Campeões da Europa e ao final, por mais que a disputa seja ferrenha há abraços, trocas de camisa, amistosidade. Na Libertadores, não, e Palmeiras e Peñarol são o reflexo maior desse estado primitivo de um futebol que tantas vezes campeão do mundo ainda não saiu da época das brigas de rua. O jogo da última quarta-feira, com vitória no último instante do Palmeiras e embora as equipes estejam muito longe da qualidade daquelas que se enfrentaram em 1961 foi uma mostra bastante verídica do que veremos nessa competição que reúne os grandes da atualidade na América do Sul.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.