CHARANGA DOMINGUEIRA de 15-01-2017

Esportes - Flávio Araújo

Data 15/01/2017
Horário 09:51
 

A CHINA COMPRA O QUE O JAPÃO RECEBEU DE GRAÇA

A escola rural era de madeira rústica e sua cobertura a mais rudimentar possível. Ensinava-se ali para adolescentes do primário, 1º, 2º e metade do 3º ano. A classe reunia 71 alunos e com a professora, Dona Otília, éramos 72 no total. Brasileiros, a professora e eu. Os demais, nisseis ou sanseis. Era a terrível fase da II Guerra Mundial em que o mundo se despedaçava como continua a despedaçar-se nos dias que correm. O homem não aprende mesmo. Mas, a verdade é que aprendíamos e ali éramos felizes sem que o soubéssemos. Com enxadas, foices e outras ferramentas aplainamos o matagal que nos cercava e construímos um campinho de futebol. Foi ali que ensinei aos coleguinhas o jogo que mais tarde me daria o "de comer" e de criar meus filhos. Não chutando bola, mas narrando o que faziam aqueles que sabiam bem chutá-la. Entre eles alguns que vieram a se chamar, Pelé, Garrincha ou Tostão. Meus coleguinhas foram generosos e me ensinaram a jogar beisebol e fazíamos um rodízio nos recreios. Vivíamos o período em que o hortelã-pimenta era o que havia de mais importante e enquanto meu pai plantava eu vivia a minha rósea infância ao lado dos amigos de olhinhos puxados. Que me chamavam de "gaigin". O estrangeiro era eu. Em compensação me ensinaram até a falar um pouco de seu idioma que mais tarde desenvolvi com a ajuda do Kenji Sato, o Miura, ao ler seus textos em japonês ao microfone da então PRI-5 no programa Momento Oriental. Aprendi o suficiente para no futuro, 1965 para ser exato, fazer uma saudação em japonês ao microfone da NHK, a emissora nipônica oficial em minha primeira viagem ao país do Sol Nascente. Conto esse fato para explicar como o Japão está unido ao Brasil pela linguagem universal do futebol que nosso país exporta sem burocracia e sem acertos oficiais. A China acaba de fazer um contrato com a Alemanha para que esta, em quatro anos, amplie o futebol no país. O futebol japonês, que ainda no final do ano sagrou-se vice-campeão mundial com o Kashima Antlers, deve o que sabe aos jogadores brasileiros. O nome de Zico é venerado no Japão, mas antes dele muitos dos nossos ensinaram aos nipônicos como o jogo deve ser jogado. E o Brasil, que não sabe a força que tem, eternamente genuflexo perante os políticos que o roubam à luz do dia ou fazem leis deletérias no silêncio das madrugadas, não se levanta de seu eterno berço para mostrar ao mundo o que tem de melhor. A China pagará caro, mas se tornará potência futebolística. O Japão já está a caminho pela ação voluntária de alguns brasileiros.

Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.     

 
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