A FIFA E SUAS DECISÕES FORA DE HORA
Quem eram os campeões mundiais de futebol antes do ano de 1930? Ninguém, já que não existia nenhum campeonato oficial da modalidade. Mas, compreende-se que era natural que os uruguaios assim se considerassem já que na realização das Olimpíadas eram, até então, o que de melhor organizado havia no futebol do planeta. Assim, no Uruguai a sua seleção era considerada a campeã do mundo. Não deixa de haver uma certa razão na questão. Afinal, a Copa do Mundo era ainda um sonho que Jules Rimet só conseguiria colocar em prática a partir de 1930. E por razões que todo mundo conhece o Uruguai confirmou na oficialidade aquilo que comemorava nem que fosse só para si. Era o melhor que havia, isso é indiscutível. Mas, campeão do mundo de verdade e na lei passou a ser só em 1930. Acontece o mesmo com os mundiais de clubes de futebol que só foram oficializados a partir do ano 2000. Até então, o que havia eram disputas de torneios internacionais onde o dedo da Fifa, por decisão exclusivamente dela, não se intrometia e deixava rolar a critério de entidades que ela comandava. Dessa forma a entidade permitia a disputa, dava autorização, até escalava dirigentes para a mesma, mas não a oficializava. As disputas entre os vencedores do torneio mais importante das Américas, a Copa Libertadores da América e o ganhador do campeonato da Uefa, o mais importante da Europa, passaram a ser consideradas como uma verdadeira competição mundial. Assim se entendiam as Confederações continentais e a Fifa deixava correr. Paralelamente, ou até antes, houve outras disputas de grande vulto, como foi a Copa Rio vencida pelo Palmeiras 1951. Infelizmente essa competição não teve a sequência que merecia e já no ano seguinte quando o Fluminense a conquistou não teve a mesma repercussão. Também houve um importante torneio interclubes no Chile em 1948 e que abriu ao Vasco da Gama o caminho para participar como seu ganhador da Copa Libertadores da América que venceria muitos anos depois. Notem, porém, que tudo isso foi feito sem que o dedo da Fifa balançasse numa menção de aprovação. A reivindicação do Palmeiras para oficializar como conquista mundial a sua vitória em 1951 nunca teve a aprovação de um Conselho Executivo da mesma, bem como outras disputas como as finais intercontinentais entre vencedores da Libertadores e da Copa da Uefa. O que a Fifa deveria exatamente no momento em que quer aumentar para 48 o número de participantes em sua Copa do Mundo de seleções era não ter mexido num vespeiro tão agitado como esse. Perdeu uma grande oportunidade de ficar calada e deixar o barco correr como fazia até então.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.
