São Silvestre, passado e presente
Flávio Araújo
O principal corredor da cidade chamava-se Procópio. Era soldado da 3ª. Cia Independente e foi o vencedor da preliminar que aqui organizamos para que Presidente Prudente, pela primeira vez, participasse da São Silvestre. Como havia duas vagas para a cidade, o segundo colocado também foi, apenas que o nome não me vem à lembrança. Sorry. O difícil foi colocar os dois no trem da Sorocabana já que o jornal A Gazeta Esportiva organizava a tradicional corrida, fazia um barulho imenso em torno da mesma, mas grana para que os eventos fossem realizados era problema de cada um.
Foi o comandante Divo Barsotti, figura notável, que depois, como coronel, chegou ao posto mais alto na corporação, quem nos ajudou para que Prudente, pela primeira vez, participasse do grande empreendimento que encerrava um ano esportivo e começava o seguinte. Iniciávamos a década de 1950, disso ainda me lembro. Houve um tempo em que acompanhava com muito interesse a Corrida de São Silvestre, principalmente quando no período noturno e, posso dizer, que os prudentinos não fizeram feio. Pelo menos terminaram o percurso.
Alguns anos depois, narrei muitas provas e lembro-me da euforia de Carlos Joel Nelli, o diretor de A Gazeta Esportiva e uma de nossas diversões era contar no dia seguinte quantas fotos do mesmo o jornal traria. Quase sempre mais de 200 do homem que só sabia uma frase e que a usava a todo momento para qualquer problema que lhe trouxessem: "mexa-se."
Não posso dizer que era uma missão agradável transmitir a São Silvestre já que, além de passar o Réveillon fora de casa, tinha que ser amarrado ao veículo que me transportava para acompanhar o pelotão de frente. Com a técnica incipiente da época, narrar uma corrida de São Silvestre era um pouco menos ruim do que narrar um Grande Prêmio de Fórmula 1, em Monza, como exemplo.
Na corrida pedestre, pelo menos, acompanhávamos o grupo de vanguarda enquanto que em Monza víamos os pilotos quando os bólidos completavam a volta diante do posto central. O que ocorria dentro do imenso bosque por onde a prova se disputava ficava por conta da imaginação. A corrida de São Silvestre morreu no passado quando competiam ingleses, holandeses, tchecos, finlandeses, iugoslavos, a América Latina toda e até brasileiros. Agora? Quenianos contra etíopes. Aumentaram o pódio. Para o Brasil não ficar de fora. Logo serão seis. Evento de televisão para enfeitar a programação no último dia do ano, tudo bem. Como prova pedestre, perdeu a graça faz muito tempo.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.