EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
Não vou me conformar e nem calar a minha voz enquanto a seleção brasileira continuar sob o comando da CBF ou enquanto a entidade maior do futebol do país continuar em mãos que não são apenas incompetentes. De Ricardo Teixeira a Marco Polo Del Nero, com José Maria Marin entre ambos, é visível o desconforto para quem vê no futebol nacional um dos objetos de paixão de nosso povo, símbolo do que já tivemos de melhor e que hoje, fruto de todos esses imbróglios criados por essas figuras não consegue lotar um estádio em Natal para um jogo de Copa do Mundo. O futebol brasileiro merece mais, muito mais e tem capacidade para atingir a marca que nos levará de volta à conquista de Copas do Mundo. Marcel Proust, o grande escritor francês, levou 14 anos para escrever os sete volumes de sua obra máxima: "La recherche de temps perdu", ou na tradução portuguesa "Em busca do tempo perdido". Sei que futebol pouco tem a ver com literatura, mas esse pouco é o suficiente para saber que a incompreensível ausência total de preparo, interesses escusos, prepotência e "otras cositas mas" fizeram com que Dunga atrasasse em muitos anos a marcha da seleção principal do país e que o nosso torcedor olhasse a seleção tão amada como algo a ser descartável entre suas paixões. Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, com seu trabalho sério e honesto em tempo recorde está colocando a seleção no caminho para recuperar os anos que perdemos na teimosia que foi a dupla indicação de Dunga. Os cartolas da CBF fizeram com que o futebol, dinâmico e que tem que andar em direção à frente voltasse aos tempos de Flávio Costa ou Iustrich, época da truculência em que treinador tratava jogador de futebol à bofetadas. O Brasil não melhorou sua posição depois da goleada sobre a Bolívia em Natal, mas firmou sua condição de um dos vanguardeiros das Eliminatórias. Essa condição poderá ser alcançada na próxima rodada que se cumprirá na terça-feira diante de um adversário que nos enfrentará com a faca nos dentes. Neymar, com todo seu brilhantismo, continua buscando humilhar os adversários e estará de fora. Seus dribles fazem a alegria do torcedor, sim, mas aconteceria o mesmo com Garrincha se fizesse hoje o que fazia em sua época. Neymar não só não jogará a próxima partida como correu o risco de também não poder enfrentar a Argentina. Ele apanha o jogo inteiro e o soprador de apito o pune quando se revolta contra a brutalidade do adversário. Mas, que busca humilhar é uma verdade que Tite tem de corrigir para que não haja mais tempo perdido.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.