"O PAÍS DO CARNAVAL"
É o título de um dos livros de Jorge Amado. Por sinal muito fraquinho, longe da imensa força e capacidade literária que nosso escritor alcançou depois. Houve o período do Jorge Amado macaca de auditório de Stalin e mesmo nessa época produziu coisa boa. Mas, destacou-se mesmo depois da fase do arrependimento inconfessado e que rendeu obras como "Gabriela Cravo e Canela" e "Dona Flor e Seus Dois Maridos". "País do carnaval" foi, creio, sua estreia e ainda não havia engrenado na arte. O que não impede que continuemos a ser o país do carnaval depois de enterrarmos sem pompa e nem circunstância a nossa fase de país do futebol. Mas, é o carnaval que segue dando mote a que o escriba o mantenha aceso. Afinal o bloco continua ativo e roncando seus estridentes instrumentos de "engana bobo". Já imaginaram que o bloco formado por Temer, Sarney, Calheiros, agora também Eunício e todos os componentes do cordão dos puxa-sacos deixaria o carnaval restrito aos dias de folia popular? Continuam mais ativos do que nunca e a oligarquia vai se estendendo de maneira intérmina. Ah, esqueci de colocar o Romero "suruba" Jucá no bloco? Obrigado pela lembrança. Seria um crime imperdoável esquecer-me exatamente dessa figura extraordinária da vida política brasileira. Porque o homem tem tutano, não importa onde. Serve-se de todos os governos da República, apronta todas e mais algumas e está sempre atacando. Considera-se um perseguido e ainda estes dias na tribuna do senado acusou a imprensa que fala de suas falcatruas de agir como os Autos da Fé da Inquisição, saltou para os revolucionários da França de Robespièrre e veio aterrissar no fascismo de Hitler e Mussolini. É uma peça a figura. Simplesmente queria blindar as presidências do Senado e da Câmara. O carnaval do povo se foi e agora só no ano que vem. Mas, não se preocupe que em Brasília a cuíca vai roncar o ano inteiro. E os blocos estão a cada dia mais familiarizados com a homogeneidade nascida no compadrio e na oligarquia. Moreira Franco vinha da linha de Vargas e é sogro de Rodrigo Maia, que é filho de Cesar Maia. Eunício é genro do Imperador de Mombaça, lembra dele? O falecido Paes de Andrade, que como presidente da Câmara assumiu a presidência da República em 1989, botou o bloco num avião e transferiu a capital da República para sua cidade natal, não na África, mas a Mombaça do Ceará. A africana é com dois esses. É, o substituto de Calheiros tem história. O carnaval vai continuar passando. O Planalto se incumbe de mantê-lo vivo.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.