Charanga Domingueira de 02-06-2013

Peço licença para deixá-lo de lado, o futebol, e encerrar esta coluna com algo que transcende e supera a maior disputa esportiva. É a luta heroica e superior do ser humano que busco relatar.

Esportes - FLÁVIO ARAUJO

Data 02/06/2013
Horário 08:08

Subir é difícil; descer, muito mais


 

Esqueça o título. Você só o entenderá no final. Bayern e Borussia compuseram um desses momentos mágicos em que o futebol se transforma em ópera emoldurando Verdi ou Rossini. Nada de Wagner. O futebol globalizado matou o arianismo e na decisão entre clubes alemães todo o planeta esteve presente.

Ficou mais para Mascagni e sua Cavalleria Rusticana que começa por cavalheirismo e se adensa em duelos o adorno nesse novo Wembley vermelho de um lado, amarelo de outro, com os ingleses cedendo espaço para os alemães conquistarem na paz o que os Messerschimitts e Stukas de Göering não conseguiram na blitz sobre Londres na Segunda Guerra Mundial.

A vitória foi do Bayern, vocês sabem, mas poderia ter sido do Borussia. Os goleiros, dois portentos, garantiram a igualdade que um lance de extrema felicidade no apagar das luzes fez a balança pender para um dos lados. Consagração de Robben, esse Júlio Botelho holandês, que contribuiu para que essa vitória se dividisse nessa verdadeira Liga das Nações que é o futebol europeu. Tantos lances emocionantes num jogo onde, se a taça ficou com a Baviera, foi em todos os aspectos triunfo do futebol globalizado que domina o planeta bola.

Peço licença para deixá-lo de lado, o futebol, e encerrar esta coluna com algo que transcende e supera a maior disputa esportiva. É a luta heroica e superior do ser humano que busco relatar. De alguém que passou a parte rósea de sua incrível trajetória guiando cegos correndo em busca de medalhas em competições de alto nível.

Jorge Luiz da Silva de Souza, Chocolate, guiou Ádria Rocha Santos e Terezinha Guilhermina nas Paralimpíadas de Atenas (2004) e Pequim (2008) ajudando-as na conquista de feitos valiosíssimos e se transformando no mais perfeito guia nesse tipo de esporte que redime e iguala o gênero humano que encontra forças para superar adversidades.

Agora um problema neurológico une os extremos e poderá transformar o bom Chocolate em mais um corredor sem visão e participando não como um guia, mas como um de seus antigos guiados. Isso se a aterrorizante esclerose múltipla que o ameaça não produzir algo ainda pior.

Com a força dos fortes e com o auxílio do Mais Alto que Jorge Luiz consiga superar mais esse entre os muitos problemas que são o mapa astral desta sua passagem é o objetivo das orações que pelo mesmo faço. Façamos todos nós. A metafísica explica fenômenos desse tipo. Eles estão enquadrados naquilo que o poeta definiu como algo superior que vem do Mais Alto e estão além da compreensão da nossa vã filosofia.

 

 

Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço

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