FUTEBOL PRUDENTINO: O PROGRESSO MATOU
Continuo com as minhas lembranças de uma Prudente que já vai ser centenária. Embora cem anos nada signifiquem na história da humanidade esse número surgia aos nossos olhos como algo impossível de ser alcançado dada a pequenez de nossas passagens terrenas. Isso de dizer que brasileiro tem memória curta é uma das muitas bobagens e lendas que se criam em torno de nossa maneira de ser. Memória curta tem toda a humanidade e prova disso é a eterna discussão em torno de fatos históricos recentes cujas versões se divergem e tem suas "verdades" multiplicadas ao sabor de nossa capacidade imaginativa. Prudente ao longo dos anos em que desfrutei do prazer de aqui viver foi, esportivamente falando, uma cidade de recursos ilimitados. Principalmente se o futebol era o alvo. Como tantas outras, sofreu com o chamado progresso que transformou os antigos campinhos onde nos divertíamos em insensíveis blocos de cimento. Lembro-me dos inúmeros locais onde a bola rolava solta nos domingos do antanho. Em cada bairro da cidade havia pelo menos um campo de futebol e se a lembrança for um pouco mais longe até pequenos estádios, rudimentares ao extremo, frise-se, existiam por aqui. O Comercial, pelos lados do Shopping, o Prudentino, pelos lados da Rodoviária, isso antes de surgirem tanto Prudentina quanto Corinthians, os dois clubes profissionais que a cidade agasalhou. Como o futebol tornou-se artigo de luxo depois do profissionalismo e principalmente depois que deixou de ser espetáculo para se transmudar em negócio a cidade sofreu o mesmo efeito que as outras que brilharam num passado que se pode considerar como ainda bastante próximo de nossos dias. Futebol profissional hoje é algo caríssimo e de forma natural vai sendo feita uma seleção naquilo que o povo tem o direito de usufruir em suas tardes de domingo. Se quando do cinqüentenário a diversão do amante do futebol estava na Prudentina ou no Corinthians hoje a gama de espetáculos ao seu alcance é incalculável. Você pode ter em sua casa todos os campeonatos do mundo e sua dúvida será ao escolher o de sua preferência. Assim, o centenário não mais verá na cidade a revelação de valores, os meninos bons de bola que aqui nasciam e aqui ficavam para o encanto de nossos olhos. É o mesmo nas cidades que abriram a era do futebol profissional no interior 6 décadas atrás. Desapareceram ou estão pagando o preço exigido numa das divisões inferiores. Existem compensações, mas é inegável que a saudade dos velhos tempos nos atinge a cada novo domingo.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.
