Mais 20 aves da espécie mutum-de-penacho (Crax fasciolata) foram reintegradas à natureza por meio de uma iniciativa da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) que visa contribuir para a preservação dessa espécie, hoje ameaçada de extinção. A ação faz parte da segunda etapa do projeto de soltura da ave pela empresa para a conservação da biodiversidade na área de influência da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta de Porto Primavera, em Rosana.
Esta fase foi iniciada em dezembro do ano passado, quando as 20 aves foram transferidas do CCAS (Centro de Conservação de Aves Silvestres), da Usina Hidrelétrica de Paraibuna, no Vale do Paraíba (SP), para os viveiros implantados pela companhia em duas áreas de conservação ambiental: 10 para a área de soltura e manejo de fauna da Fazenda Cisalpina, unidade de conservação da Cesp no município de Brasilândia (MS), e outros 10 para a área de soltura e manejo de fauna da foz do Rio Aguapeí, em Castilho (SP). Nos viveiros, elas receberam equipamentos radiotransmissores no dorso e acompanhamento constante pelas equipes técnicas.
Após 30 dias, período de adaptação, foi realizada, no dia 20 de janeiro deste ano, a soltura branda, processo em que as portas dos viveiros são abertas e as aves continuam recebendo alimentação dos tratadores (os alimentos são escondidos na mata para incentivar a integração das aves ao ambiente), até que o viveiro seja por fim fechado. “Com essa soltura, estamos encerrando com chave de ouro esse projeto que foi iniciado há duas décadas, quando cerca de 40 aves foram resgatadas das áreas de formação do reservatório de Porto Primavera e levadas para o centro de conservação da companhia, um dos poucos do país a realizar a reprodução dos mutuns em cativeiro, ave ameaçada de extinção em diversas regiões do país”, ressalta André Rocha, gerente de Sustentabilidade e Operações da empresa.
De acordo com o gestor, o projeto de soltura dos mutuns da Cesp foi um dos 10 projetos voltados para a conservação ambiental selecionados em todo o país para participar de Fórum de Programas de Fauna do Licenciamento Ambiental Federal, realizado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), no fim do ano passado.
“Destinado a certificar iniciativas ambientais específicas para a fauna, o evento atesta o sucesso da nossa ação. Vale ressaltar que o projeto de soltura do mutum-de-penacho vai muito além de pegar essas aves e soltar na natureza. Ele envolve a construção dos viveiros, estudos e planejamento estratégico. Foram feitas ainda avaliações constantes dos animais, incluindo exames médicos e treinamentos comportamentais, visando garantir que eles estejam saudáveis e aptos para a soltura, além das preparações para a viagem da Usina Hidrelétrica de Paraibuna até as unidades de conservação, tudo para reduzir qualquer estresse dos animais e garantir que eles cheguem bem e saudáveis”, completa.
A primeira etapa do projeto foi realizada entre os meses de outubro e novembro, quando os primeiros 20 indivíduos foram transferidos do CCAS para as áreas de conservação ambiental em Brasilândia (MS) e Castilho (SP). No dia 26 novembro, após período de quarentena das aves, foi iniciada a ação de soltura branda. Para receber os mutuns, dois viveiros semelhantes ao existente no CCAS, com 17 metros de comprimento por 4,5 metros de altura e 7,8 metros de largura, foram construídos nas duas propriedades com o objetivo de facilitar o processo de adaptação das aves.
Com cerca de 60 centímetros de altura e pesando de 2,5 a 3 quilos, o mutum-de-penacho também é conhecido por ser um excelente dispersor de sementes. Como se trata de um animal de solo (ele sobe em árvores somente para dormir), o mutum se alimenta de pequenos insetos e de sementes de árvores, o que ajuda a disseminá-las pela região e contribuir para o processo natural de reflorestamento e conservação da flora.
Com a soltura dos 20 indivíduos restantes, a companhia encerra parte do projeto, completando 40 aves reintegradas à natureza. O monitoramento das aves deve ser mantido pelo período de dois anos, por meio de telemetria por radiotransmissores e registros fotográficos de câmeras trap (armadilhas fotográficas), posicionadas em locais estratégicos. Paralelamente ao monitoramento, o projeto prevê ainda uma série de ações de conscientização, educação ambiental sobre os mutuns e fomento a ações de reflorestamento em áreas de preservação nas comunidades vizinhas às unidades de conservação da companhia.