Se você leitor empresário estiver “na casa” dos 50 e se você estivesse acordando numa manhã de terça-feira de Carnaval há uns 30 anos, provavelmente estaria enfrentando uma ressaca (ou mero cansaço que fosse) daquelas pelo acumulado da festa momesma que talvez até lhe inibisse a leitura desta “coluna” que trata de assunto, em tese, sem qualquer relação com a festa mais popular do país.
Mas, e já atente para isso, como em 30 anos o mundo mudou, os hábitos mudaram, o Carnaval mudou, e principalmente talvez você tenha mudado, é quase certo que você não tenha “brincado” o Carnaval ontem e hoje de madrugada, de modo que se torna possível ler este artigo.
Com exceção de você por enquanto (te analiso depois), considerando todos elementos acima que se transformaram nos trinta anos passados há um ponto em comum entre eles que também se transformou: o tratamento dispensado ao ser humano “diverso”. Não entendeu? Vou destravar sua memória!
“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é? B....!”. “Maria sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João!”. “Olha a nêga do cabelo duro, que não gosta de pentear...”. E por aí vai, ou melhor, ia, foi.
Voltando a você agora, tenha ou não mudado após trinta anos, experimente – para ficarmos na linguagem do Carnaval – “puxar” (que também não é mais correto, e sim “intérprete”) uma destas músicas caso você vá hoje à noite em alguma festa que de Carnaval só tem o nome. Apostaria dinheiro que confete e serpentina você não atrairia, mas sim uma enorme confusão, senão até mesmo uma prisão, com possível trilha sonora: “Ai, meu Deus, me dei mal. Bateu à minha porta o Japonês da Federal!”.
Como eu sempre digo, se a vida e a sociedade mudam, e se as empresas fazem parte de ambas, consequentemente as empresas mudam, ou deveriam mudar, pois embora uma empresa tenha um dono não é um feudo encastelado com um “rei” (“Momo”) e que da porta para dentro tenha uma realidade diversa da realidade de fora.
A diversidade social, especialmente a relativa à denominada comunidade LGBTQIA+, bem como as diversidades religiosa, política, etária, étnica e outras, adentraram às empresas natural e espontaneamente, ou recentemente por meio de políticas incentivadoras de inclusão no mercado de trabalho e preventivas contra práticas discriminatórias.
Com esta mudança modificou-se o perfil das equipes de “colaboradores” que com a chamada “diversidade” se tornou diverso, não mais padronizado como nos “antigos carnavais”, o que levou – naturalmente ou à força (depois de muitos processos trabalhistas) – à mudança de tratamento dispensado pelo empresário/gestor e seu “time” a certos indivíduos ou grupos de colaboradores.
Houve um tempo que as “brincadeiras”, o chiste, a pilhéria direcionados àqueles eram tidos como normais dentro das empresas. Mas já há algum tempo e hoje não são mais normais, são riscos psicossociais que agora são previstos em “lei”.
As empresas têm que “dançar” conforme a música (lei). A lei (música) mudou e a dança tem que mudar.
O folião ou empresário que não mudou e que se mantém encapsulado no tempo ficará como o Arlequim, chorando pela Colombina {sozinho} no meio da multidão.
Quem não mudar, vai “sambar”!
Bom Carnaval a todos! Chora cavaco!!